18 de junho, 2008 - 13h45 GMT (10h45 Brasília)
A alta recorde dos preços em maio na Grã-Bretanha fez com a meta de inflação do governo fosse ultrapassada apenas pela segunda vez desde que o Banco Central do país se tornou independente, em 1997.
Segundo o jornal britânico Independent, o BC britânico permite uma variação de 1 ponto percentual para cima ou para baixo da meta, que é de 2% ao ano. Quando essa faixa é ultrapassada, o presidente do Banco Central tem que escrever uma carta explicando o que está ocorrendo.
Ainda de acordo com o diário britânico, nessa carta o governo foi alertado que a inflação no país pode chegar a 4% e que há temores de retorno da “estagflação”.
“Os números confirmam que a meta de 2% para a inflação - a jóia da coroa da estratégia econômica do governo - não passa agora de uma irrelevância gloriosa”, diz o jornal.
“A inflação não vai voltar à sua meta oficial antes de 2010 ou 2011. À medida que os preços aumentam, veremos pelo menos uma fração do que os economistas chamam de crescimento negativo. Quer dizer, vamos ver a economia afundar pela primeira vez desde 1992. A estagflação está de volta”, prevê o diário.
Na opinião do jornal, o panorama de estabilidade econômica prometido por Gordon Brown, “está se esfarelando junto com seus planos de reduzir a pobreza”.
Efeito espiral
A inflação também foi abordada por vários outros periódicos do país nesta quarta.
O jornal The Guardian acredita que "a esperança do Banco Central britânico é de que os salários não acompanhem o ritmo da inflação, o que poderia causar um efeito em espiral".
“Não há sinais de que isto vá acontecer ainda, mas se este for o caso, será o retorno da estagflação, a era em que os preços subiam mesmo quando a economia estava em baixa”, diz o diário britânico.
O jornal afirma que o aumento recorde da inflação na Grã-Bretanha em maio é reflexo do aumento do preço dos alimentos e combustíveis em todo o mundo.
“O custo de vida está crescendo tanto nos países ricos quanto pobres. A globalização possibilitou aos países ocidentais empregar mão-de-obra barata e aos consumidores comprar bens manufaturados baratos.”
“Ao mesmo tempo, tornou milhões de chineses, indianos e outros em consumidores exigentes, com dinheiro para comprar carne e trocar a bicicleta pelo scooter”.
Otimismo
Já para o Daily Telegraph e o The Times, a inflação recorde deve ser encarada com otimismo.
O The Times diz que há grandes diferenças entre a atual taxa de 3,3% e a registrada em 1975, quando o índice bateu 25%.
“Há diferenças claras”, diz o jornal. “Para começar, os preços do setor imobiliário - que representam um índice de preços muito importante - não estão subindo", diz o diário.
"E à medida que os investidores neste mercado começam a se sentir mais pobres, também começam a frear seus gastos”.
Ainda para o jornal, outra razão para se manter o otimismo é a determinação do Banco Central em “fazer o que for preciso para conter a inflação, inclusive aumentar a taxa de juros”.
“Isto significa que há boas chances de que a inflação desapareça”, afirma o The Times.
Para o Daily Telegraph, é hora de ser “positivo e não negativo”. O jornal diz que a desaceleração da economia, com a queda dos preços do setor imobiliário e o aumento do desemprego irão, por si só, puxar os gastos para baixo, o que terá um impacto positivo sobre a inflação.
O diário diz que os dados divulgados pelo BC britânico “se baseiam na esperança de que o país sentiu de uma vez só o duro golpe causado pela explosão das commodities e que não há mais surpresas desagradáveis por baixo dos panos”.