21 de dezembro, 2006 - 10h46 GMT (08h46 Brasília)
Márcia Freitas
De Londres
"Respire fundo...tente se lembrar de algum momento nas últimas 24 horas quando você se sentiu realmente bem", orienta o professor Ian Morris. Mas esta não é uma aula de ioga ou relaxamento. Estamos no Wellington College, uma escola tradicional nos arredores de Londres e a primeira na Grã-Bretanha a oferecer aulas de bem-estar.
Depois dos cinco minutos de meditação, os alunos de 14 e 15 anos aprendem, por exemplo, a lidar com emoções ruins e a transformá-las em algo positivo.
"Nós queremos que os alunos conheçam os fatores que contribuem para o bem-estar: ter uma alimentação adequada, dormir bem, ser emocionalmente inteligente", afirma Morris.
A idéia de oferecer aulas de bem-estar ou felicidade como parte do currículo escolar foi do diretor do colégio, Anthony Seldon.
"Na Grã-Bretanha, como em muitos outros lugares, jovens e adultos estão sofrendo cada vez mais com depressão e isolamento", afirma Seldon.
"Eu acho que se você ensinar a criança na escola como evitar a depressão e a ansiedade, então você está oferecendo algo que vai durar para o resto da vida dela", completa.
Resultados
Os alunos afirmam que apesar de não requerer muito estudo, as aulas têm muito a oferecer.
"Até agora, as aulas têm me ajudado a revisar o material, a me preparar para os exames. Mas, além disso, têm me ajudado a dormir melhor", diz Jack Harris, de 14 anos.
Para Peter, de 15 anos, as aulas ajudam também nas relações com amigos e com a família.
"Você consegue perceber como as pessoas reagem de maneiras diferentes a uma determinada situação", afirma.
Não há provas para a nova disciplina, e os organizadores reconhecem que não sabem ainda como irão medir o sucesso do projeto.
"Nós estamos pensando em maneiras de fazer isso. Mas eu acho também que há coisas na vida que não precisam ser medidas", diz Morris.
Ciência
As aulas de bem-estar oferecidas pelo Wellington College não são a única iniciativa acadêmica relacionada à felicidade.
O professor e economista Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, escreve sobre o assunto há 15 anos.
"Eu acho que o estudo do bem-estar é uma ciência emergente, na fronteira entre psicologia, economia, medicina, estatística", afirma.
Ele diz que já é possível medir os fatores que contribuem para a felicidade.
"Dinheiro faz parte do bem-estar, renda faz parte do bem-estar. Eu acho que economistas têm um papel a desempenhar nesse estudo por causa da importância que renda, emprego e satisfação no trabalho têm nas nossas vidas", afirma.
Cambridge
Confirmando a tendência, a Universidade de Cambridge inaugurou, no mês passado, o Instituto do Bem-Estar.
"A Universidade de Cambridge quer estar envolvida no que há de mais inovador e nós percebemos que o bem-estar é uma ciência emergente", diz Nick Baylis, que é diretor do novo instituto e também esteve envolvido no projeto do Wellington College.
Ele diz que a ciência do bem-estar é "um estudo sistemático e cuidadoso sobre como a vida pode ir bem e quais os fatores que contribuem para isso".
"Quando eu digo 'ir bem', eu quero dizer estar bem psicologicamente, socialmente, fisicamente e em harmonia com o nosso ambiente natural", explica.
Segundo Baylis, o estudo do bem-estar não se aplica somente ao indivíduo, mas pode ajudar também "famílias, comunidades e nações".