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26 de setembro, 2005 - 02h52 GMT (23h52 Brasília)

Caio Blinder
de Nova York

Análise: Com desastres naturais e políticos, Bush segue mais e lidera menos

George W. Bush é um presidente de extremos.

No desastre Katrina, seu comportamento foi marcado no início por um distanciamento que beirou a passividade.

Já diante do desafio Rita, Bush tem sido exasperante com o seu esforço de microgerenciamento, embora sempre com cuidado para não atrapalhar no trabalho de resgate e assistência.

Katrina chegou ao golfo do México, e o presidente manteve sua agenda de férias de verão. Com Rita, ele simplesmente abriu a sua agenda, ficando à mercê do furacão.

Como nos atentados de 11 de setembro de 2001 - quando houve uma trajetória da vacilação para a liderança resoluta -, o presidente viu em Rita uma oportunidade para se redimir do fiasco Katrina.

A natureza não ajudou. O cientista político Paul Light, da Universidade de Nova York, observou que de fato a resposta das autoridades federais, estaduais e municipais foi mais eficiente na emergência Rita do que na Katrina, mas o segundo furacão foi menos devastador do que o primeiro.

Não foi um teste decisivo de redenção. Assim, Bush tem pouco a ganhar politicamente com seu ativismo gerencial.

Consolo

O presidente se preparou para a guerra e sintomaticamente até se deslocou na sexta-feira para o comando militar norte, no Estado do Colorado, para monitorar a chegada de Rita na madrugada de sábado.

Mas, quando Bush chegou a Austin, capital do Texas, para acompanhar a batalha mais de perto, o dia já estava ensolarado naquelas bandas.

Já no domingo em San Antonio, ainda no Texas, o presidente voltou a sugerir que o Pentágono tenha mais autoridade em desastres naturais em larga escala.

Falando em guerra, foi até um consolo este empenho de Bush para estar em casa no Texas nas proximidades do furacão transformado em tempestade tropical.

Lá em Washington, em frente à Casa Branca, dezenas de milhares de pessoas participavam do maior protesto pacifista desde a invasão do Iraque em março de 2003.

Além de ganhar poucos pontos com o microgerenciamento de desastres naturais, Bush pode ser visto basicamente como um político oportunista.

Na pesquisa do Pew Research Center, 56% das pessoas disseram que a promessa do presidente de pagar o que for necessário para a reconstrução de Nova Orleans (devastada pelo Katrina) é impulsionada por motivos politicos.

Cinismo

Existe no geral um sentimento de cinismo em relação à Casa Branca.

O presidente amarga sua mais baixa taxa de aprovação desde que assumiu o poder (na faixa dos 40%) e existem crescentes dúvidas sobre sua capacidade para liderar o país em situações críticas (o que sempre foi o seu principal artigo de venda), que vão do Iraque a programas domésticos.

William Kristol, um dos mais influentes arautos neoconservadores e editor da revista Weekly Standard, reconheceu que uma virada psicológica começou com o fracasso da campanha de reforma da Previdência Social, rotulada como a prioridade doméstica número um do governo há seis meses.

A partir daí, o flanco foi se alargando. Influentes senadores republicanos questionam abertamente o curso oficial no Iraque e agora, com os desastres Katrina e Rita, falcões fiscais do partido do presidente não escondem seu descontentamento com a ansiedade de Bush para abrir o cofre sem esclarecer como irá cortar outros gastos.

O déficit político do governo conta cada vez mais do que o déficit orçamentário.

Com a onda de furacões, a agenda imediata do presidente está aberta, mas a Casa Branca insiste que as grandes metas seguem inalteradas, como agüentar o rojão no Iraque e tornar permanentes os cortes de impostos.

Bush, no entanto, parece menos capaz de liderar e mais inclinado a acompanhar a trajetória de desastres naturais e políticos.