06 de janeiro, 2005 - 17h56 GMT (15h56 Brasília)
Alex Kirby
O potencial das áreas de ciência e tecnologia para combater a pobreza é muito maior do que os governos imaginam.
Essa é a conclusão de um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) elaborado por 27 especialistas internacionais.
O documento, que será encaminhado ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aponta caminhos para se reduzir radicalmente a pobreza e a fome nos próximos dez anos.
O texto diz que os cientistas deveriam se unir aos economistas nos debates sobre questões de desenvolvimento.
Caso contrário, não há chance de alcançar o objetivo de cortar pela metade a pobreza no mundo até 2015, alertam os pesquisadores da ONU.
Conselheiro científico
O relatório, chamado Projeto Milênio, será divulgado por completo no final deste mês.
Ele aponta meios para reduzir a pobreza, fome, doenças, analfabetismo, degradação do meio ambiente e discriminação contra a mulher.
A equipe de pesquisadores foi coordenada pelo professor Calestous Juma, da Universidade de Harvard.
"Capacidades científicas e tecnológicas determinam a habilidade para fornecer água potável, bom tratamento de saúde, infra-estrutura adequada e alimentos seguros", disse.
Ele destaca que poucos governos e órgãos internacionais têm analistas para essa área. Mas, no setor de economia, continua o professor , quase todos contam com especialistas.
"A ONU deveria servir de exemplo, indicando um conselheiro científico ao secretário-geral."
Na sua avaliação, os países desenvolvidos deveriam investir na capacidade intelectual dos países em desenvolvimento, o que poderia prevenir ou reduzir, por exemplo, o impacto de desastres naturais, como foi o caso dos tsunamis.
Juma ressalta que sistemas de alerta poderiam ter reduzido a escala do desastre causado pelas ondas gigantes.
Inovações
O relatório da ONU também apresenta inovações que foram bem sucedidas, como o sistema de tratamento de água desenvolvido pelo Uruguai para os seus soldados que estavam nas forças de paz na África na década de 90.
Mais de 120 unidades foram instaladas no próprio Uruguai, ajudando a combater doenças como a cólera.
Outro exemplo vem da Universidade Virtual Africana, que, a partir deste ano, usará a internet para treinar novos professores à longa distância.
Baseada em Nairobi, no Quênia, a instituição estabeleceu 31 centros de treinamento em 17 países africanos.
Desde 1997, quando foi inaugurada, já foram treinadas mais de 23 mil pessoas em jornalismo, negócios, computação, línguas e contabilidade.