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28 de dezembro, 2004 - 10h33 GMT (08h33 Brasília)

Marcelo Torres

As pessoas agarravam meu pé, diz brasileiro

Dois brasileiros contaram à BBC Brasil como foram tomados pelas águas do tsunami que atingiu o sul da Ásia no domingo e conseguiram sobreviver.

Os paulistas Giuliano Pasquale de Moura, 25 anos, e Volnei Llamazalez, 33 anos, haviam chegado à paradisíaca ilha de Phuket, na Tailândia, na véspera do maremoto.

Às 8h do domingo (23h de sábado em Brasília), eles disseram que sentiram a cama balançar no hotel, mas acharam que era apenas um caminhão passando.

Saíram então para tomar café da manhã em frente à praia de Patong.

Por volta das 10h, estavam andando pelo calçadão da praia quando a água do mar começou a cobrir a areia. "As pessoas começaram a correr e gritar", disse Giuliano.

"Quando vimos o que estava acontecendo, o mar estava muito mais alto do que a gente. Aquilo estava vindo, uma loucura!"

Segundo Giuliano, a onda tinha por volta de 3 a 4 metros.

'Não deu tempo de correr'

"Nós começamos a correr, mas a rua estava longe. Não deu tempo. A primeira onda me levou para dentro de um hotel."

"Quando a onda parou, eu consegui correr para uma escada, onde já havia umas pessoas escondidas."

"Essa primeira onda já levou tudo. As pessoas que estavam na praia não tiveram condição nenhuma de correr. Foi uma questão de segundos."

"Não era uma onda normal. Parecia que o mar tinha levantado e vindo."

"Eu pensei comigo que deveria vir outra. Daí eu vi uma parede de uns 3 metros que me pareceu ser o ponto mais alto do local. De lá, eu vi o meu amigo em cima de um telhado de uma lojinha em frente ao mar."

"Fiquei ali por uns 3 ou 4 minutos enquanto vinham umas ondas pequenas."

'Era monstruoso'

"Toda a água que estava no hotel sugou para dentro do mar e daí veio a onda grande. Era monstruoso."

"Veio derrubando tudo. Tinha um iate bem grande, ele veio para a rua e bateu em uns coqueiros."

"Essa água veio e me derrubou da parede. Eu quase me afoguei umas três, quatro vezes tentando nadar. Fui batendo em tudo, rolando."

"Consegui me segurar em alguma coisa, um saco plástico, cheio de ar, preso numa árvore. Eu consegui subir nessa árvore, que estava dentro do hotel."

Seu amigo Volnei conta que, ainda no calçadão da praia, viu as pessoas fechando as lojas e achou que fosse apenas uma blitz da polícia. Não demorou para perceber o que estava acontecendo.

"Eu estava de chinelo, não conseguia correr. Daí eu tirei o o chinelo e a onda me pegou."

'O carro começou a destruir a loja'

"Eu caí dentro de uma lojinha na praia. Era fechado e começou a encher de água. Quando eu olhei pra fora, veio um carro para cima da gente e começou a destruir a loja."

"Comigo estavam umas sete, oito pessoas dentro da loja, gritando, tentando nadar", disse Volnei.

"O carro fechou a entrada da loja. A porta caiu e veio para cima de mim."

"Eu tentei desviar, e as pessoas seguraram no meu pé, afundando."

"Eu estava nadando contra a correnteza, a água começou a puxar as pessoas, e elas agarravam no meu pé, umas três pessoas."

"Passei por baixo do carro e agarrei numa grade."

"O fundo da loja estourou, e eu não sei para onde essas pessoas foram. Eu consegui escalar a loja. Quebrei uma telha e subi no telhado."

"Nunca tinha visto isso. Eu olhava para o mar e tentava decifrar o que estava acontecendo."

"Vieram na minha direção um barco de pescadores, um iate, carros."

"Vi meu amigo na árvore, e ele falou que eu deveria ir para lá."

'Só sobrou o meu telhado'

"Daí veio uma onda mais forte, e todas as outras lojinhas foram destruídas. Só sobrou o meu telhado."

"Fiquei preocupado com um barco que estava vindo e com os fios elétricos."

Foi então que Volnei seguiu para a árvore em que estava o seu amigo Giuliano.

"Ficamos ali quase uma hora esperando que se acalmasse", disse Giuliano.

"Quando acalmou, a água estava numa altura que dava para andar e a gente foi para um hotel de seis andares. Ficamos lá no terraço."

"A gente foi então para um morro que fica entre as praias e ficamos lá até seguirmos para o centro da cidade de Phuket, onde estava toda a ajuda."

Giuliano e Volei acreditam que tiveram muita sorte de terem sido arrastados pela água e sobrevivido.

"As pessoas que estavam do lado da gente acho que não conseguiram", concluiu Giuliano.