Caio Blinder de Nova York

Vices de Bush e Kerry se enfrentam na terça-feira

Este tipo de duelo costuma ser inconseqüente porque raramente ele influencia na percepção dos eleitores em relação ao confronto principal.

O debate desta terça-feira entre o vice republicano Dick Cheney e o senador democrata John Edwards, porém, tem importância crucial não apenas porque agora, nas suas últimas quatro semanas, a corrida presidencial adquire o caráter de equilíbrio dramático que se esperava, mas também porque o segundo posto hoje está em primeiro plano.

George W. Bush foi um presidente que reforçou o peso do seu vice, algo que já fora uma marca do antecessor democrata Bill Clinton com Al Gore, embora não com tanta convicção.

Dick Cheney já é um vice-presidente de importância histórica e a avaliação ganha ainda mais relevo se levarmos em conta que ele não será promovido, salvo é claro se alguma coisa trágica acontecer com Bush no exercício do mandato.

Veterano

Há quatro anos, Cheney foi escolhido para a posição (a rigor foi uma autonomeação porque ele era o comitê de seleção) sem a pretensão de subir ainda mais na vida.

O inexperiente Bush ganhou como companheiro de chapa um veterano "insider" de Washington, sinalizando que o país estaria em boas mãos.

Para críticos mais exaltados, Bush não passa de um marionete de Cheney e o resultado do "governo" do vice é desastroso.

Para os mais caridosos, o vice é um co-presidente ou um fortíssimo primeiro-ministro em um regime presidencialista.

O balanço sobre a gestão Cheney é controvertido, mas ninguém discute seu papel-chave em quatro anos de governo Bush, em particular em questões ligadas à política externa e segurança nacional.

O vice-presidente foi uma força propulsora na decisão americana de invadir o Iraque e foi um patrono dos impulsivos ideólogos neoconservadores.

Este padrão de importância do vice no exercício do mandato do presidente não deverá necessariamente se repetir, seja com democratas, seja com republicanos.

De qualquer forma, as expectativas estão criadas. O democrata John Edwards é uma escolha mais tradicional de companheiro de chapa.

Kerry selecionou o exuberante e populista senador sulista calculando que ele seria um ótimo coadjuvante na campanha.

Vices

No passado, companheiros de chapa foram escolhidos por contingências políticas do momento ou fruto de uma certa indiferença.

Um dos casos mais ilustrativos foi o de Harry Truman. Selecionado por Franklin Roosevelt em 1944, quando o presidente concorreu a um quarto mandato, Truman prometia ser uma nota de rodapé na história.

No entanto, com a morte de Roosevelt quatro meses após a posse e sua própria eleição em 1948, Truman foi para as páginas principais dos livros de história.

Lyndon Johnson também superou as expectativas com a trágica morte do presidente John Kennedy.

O mesmo não aconteceu com Gerald Ford, que ganhou o emprego principal com a renúncia do patrão Richard Nixon no escândalo Watergate.

Cheney não se preocupa em ganhar mais espaço enquanto John Edwards está tateando. É um político de ascensão meteórica e aparenta menos do que os seus 51 anos.

Edwards está em uma posição promissora. Se Kerry vencer em novembro, ele terá o caminho aberto para sua própria campanha presidencial em 2012 quando ainda será relativamente jovem.

Se Kerry perder por pouco no mês que vem, Edwards embala para a eleição de 2008 como o candidato a vice que quase deu certo.