01 de setembro, 2004 - 19h32 GMT (16h32 Brasília)
Victoria Lindrea
O cinema já foi o paraíso do escapismo, mas nos Estados Unidos, pelo menos, as salas multiplex estão rapidamente se tornando um campo minado político.
A insatisfação com alguns aspectos da administração George W. Bush levou a um número sem precedentes de filmes políticos neste ano.
Com as eleições presidenciais em novembro, Hollywood está levantando o tema.
O aumento de documentários políticos propiciou o surgimento de diversos projetos como Outfoxed, ainda sem título em português, Bush's Brain ("O Cérebro de Bush", em tradução literal) e Control Room ("Sala de Controle", em tradução literal), uma visão favorável à rede de TV árabe Al Jazeera e sua cobertura da guerra no Iraque.
Normalmente esses filmes específicos e de baixo orçamento não teriam a menor chance nas grandes salas, mas eles estão chamando a atenção do público na esteira de sucesso de Fahrenheit 11 de Setembro, de Michael Moore, que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes.
Tema comum
O cáustico documentário de Moore é uma tentativa deliberada de arruinar as chances de reeleição de Bush.
Eleitores democratas passaram mais de cinco horas em uma fila para ouvi-lo falar na convenção do partido em Boston, lançando sua guerra contra "o lado não eleito que ocupa a Casa Branca".
Nem todos os filmes são tão explícitos em sua determinação de mudar o curso da política, mas quase todos os documentários políticos da safra atual são críticos ao presidente Bush e à administração dele.
E o público está ouvindo. Outfoxed: Rupert Murdoch's War on Journalism ("Outfoxed: A Guerra de Rupert Murdoch ao Jornalismo", em tradução literal), foi lançado recentemente nos cinemas americanos depois que o DVD, inesperadamente, se tornou um campeão de vendas.
O inflamado documentário, dirigido pelo liberal Robert Greenwald, ataca a rede de TV Fox por sua suposta posição direitista, enquanto levanta a questão sobre os perigos das grandes corporações controlando grupos de mídia.
O diretor de Control Room, Jehane Noujaim, disse que "não há como assistir um único canal de televisão e sentir que você está recebendo a verdade completa".
Persons of Interests, ("Pessoas de Interesse", em tradução literal) examina a detenção de imigrantes muçulmanos e árabes pelo governo americano depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Abertamente partidário, o filme afirma que o governo está, deliberadamente, desprezando os direitos civis.
"Acho que existe uma crença fuindamental de que as coisas funcionam e que as ações do governo são baseadas em inteligência, mas este não foi o caso dessas detenções - quero que as pessoas saibam disso", disse o diretor Tobias Perse ao programa Talking Movies, da BBC.
Contra-ataque
Não são apenas os documentários que criticam Bush. A refilmagem de Sob o Domínio do Mal acaba de chegar às telas americanas com sucesso.
Apesar dos personagens de Meryl Streep, uma senadora manipuladora, e de Denzel Washington, que interpreta um veterano de guerra maligno, o principal vilão é uma corporação multinacional com forte interesse financeiro na defesa nacional.
O diretor Jonathan Demme insiste que o filme é um thriller psicológico, mas ainda assim espera que "leve as pessoas a falar do que está acontecendo no país".
Mas o Partido Republicano vai contra-atacar em breve.
A Renascença do Cinema Americano, um festival de dois dias em Dallas, marcado para setembro, será um fórum "dedicado a comemorar os valores, mensagens e temas pró-Estados Unidos".
Cerca de 20 filmes vão ser exibidos, entre eles a pré-estréia de Michael Moore Hates America ("Michael Moore Odeia a América", em tradução literal), de Michael Wilson, e a produção de maior orçamento Michael & Me ("Michael e Eu", em tradução livre), do apresentador de rádio Larry Elder.
"Moore tem um ponto de vista e está fazendo o que devia - mostrando para todo mundo", disse ao jornal britânico Daily Telegraph James Hubbard, advogado e um dos que apóiam o festival.
"É hora dos conservadores fazerem o mesmo."