http://www.bbcbrasil.com

19 de fevereiro, 2006 - 05h56 GMT (03h56 Brasília)

'Terror obtém munição do Islã', diz chargista dinamarquês

O cartunista dinamarquês Kurt Westergaard, que desenhou as charges do profeta Maomé que detonaram uma onda de protestos no mundo islâmico, afirmou que não se arrepende e disse ainda que o terrorismo consegue a sua munição no islamismo.

Westergaard, que foi obrigado a viver escondido desde que um clérigo do Paquistão ofereceu uma recompensa pela cabeça do chargista, afirmou a um jornal escocês que as caricaturas foram inspiradas pelo terrorismo.

"O terrorismo obtém a sua munição espiritual no Islã", disse o desenhista ao Glasgow Herald.

Na entrevista ao Herald, Westergaard disse ainda que as liberdades de imprensa e de expressão são fundamentais para uma sociedade democrática.

No entanto, ele admitiu que não esperava que o trabalho dele fosse gerar tanta polêmica.

De acordo com o chargista, os desenhos tinham apenas a intenção de expor os diferentes pesos e medidas usados pela Dinamarca e pela Europa ocidental usando como referência tabus sobre alguns aspectos do islamismo.

Ele afirmou ainda acreditar que a vida dele vai voltar ao normal.

Nigéria

No sábado, segundo a polícia, protestos violentos contra a publicação das charges de Westergaard deixaram pelo menos 15 mortos na cidade de Maiduguri, capital do Estado de Borno, no norte da Nigéria.

Ainda de acordo com as autoridades, pelo menos 11 igrejas cristãs, carros e o comércio local teriam sido incendiados por multidões iradas com as caricaturas – uma delas representa o profeta Maomé como um homem-bomba.

A polícia teria sido obrigada a impor o toque de recolher em Maiduguri para controlar a violência.

Esses foram os primeiros protestos contra as polêmicas charges na Nigéria, cuja população é dividida entre muçulmanos e cristãos.

No Estado de Katsina, na região centro-norte da Nigéria, outra pessoa teria morrido também em protestos contra as charges.

Ao todo, cerca de 115 pessoas foram detidas em Maiduguri e 105, em Katsina, segundo informações da polícia.

Mais protestos

Na Líbia, pelo menos dez morreram em confronto com a polícia em frente à missão da Itália na sexta-feira, dias depois de um ministro italiano ter vestido uma camisa com as caricaturas estampadas.

Na Itália, o ministro das Reformas, Roberto Calderoli, acabou entregando o cargo no sábado. Ele vinha sofrendo pressão de seus colegas no gabinete italiano, incluindo do premiê Silvio Berlusconi.

Calderoni defendeu o uso da camiseta como um protesto contra o que chamou de intolerância islâmica.

O ministro do Interior da Líbia foi suspenso e está sendo investigado pelo suposto uso de força excessiva contra os manifestantes.

Na sexta-feira, a polícia líbia impediu que centenas de manifestantes invadissem o consulado italiano na cidade de Benghazi.

O Paquistão proibiu novas manifestações, um dia antes de uma grande passeata marcada na capital do país, Islamabad, embora os organizadores digam que o protesto vai acontecer como previsto.

Também na Rússia, grupos de defesa da liberdade de expressão condenaram a decisão do governo do país de fechar um jornal que publicou uma caricatura do profeta Maomé ao lado de Jesus, Buda e Moisés.

Em Londres, a polícia estimou em dez mil o número de pessoas que participaram de um protesto no centro da capital britânica neste sábado.