04 de novembro, 2005 - 03h14 GMT (01h14 Brasília)
A União Européia disse nesta quinta-feira que vai investigar relatos de que a CIA (Central de Inteligência Americana) mantém prisões secretas em outros países para esconder e interrogar suspeitos de terrorismo.
Os relatos foram publicados no jornal The Washington Post. Segundo o diário, as instalações secretas existiriam em oito países – alguns deles no Leste Europeu.
Um porta-voz da União Européia, Friso Roscam Abbing, disse que a existência dessas prisões violaria as leis que regem os direitos humanos na Europa.
Segundo Abbing, a Comissão Européia, braço executivo da UE, vai lançar um inquérito informal, pedindo explicações dos 25 países-membros e de candidatos a entrar no blovo, como Romênia, Bulgária, Croácia e Turquia.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Sean McCormack, disse que o governo não recebeu nenhum pedido da UE para cooperar numa eventual investigação.
"Se nós recebermos um pedido, nós vamos examiná-lo", afirmou McCormack.
A CIA não comentou as denúncias.
Polônia e Romênia
A organização Human Rights Watch (HRW) – que, como indica o nome, monitora as práticas de direitos humanos no mundo – sugeriu que a Polônia e a Romênia podem estar entre os países que abrigariam as prisões secretas, mas ambos negaram as alegações.
Segundo a agência de notícias Associated Press, a entidade diz haver indícios de que suspeitos capturados no Afeganistão foram transportados para os dois países. A conclusão seria baseada em uma acompanhamento dos vôos da CIA entre 2001 e 2004, segundo o analista militar da HRW Mark Garlasco.
O primeiro-ministro da Romênia, Calin Tariceanu, disse que "não há bases da CIA" no país.
O ex-ministro da Defesa da Polônia Jerzy Szmajdzinski, que passou o cargo a um sucessor nesta semana, disse que o país não está "detendo terroristas, interrogando-os ou fazendo qualquer outra coisa com eles".
O Washington Post disse que não publicou os nomes dos países no Leste Europeu supostamente envolvidos a pedido de autoridades americanas, por temor de que isso prejudicasse os esforços contra o terrorismo.
Cruz Vermelha
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a única organização que tem acesso aos prisioneiros da prisão de Guantánamo, em Cuba, também reagiu com preocupação às denúncias.
A porta-voz do CICV, Antonella Notari, disse que a organização pediu explicações a Washington sobre as alegações e pediu acesso aos prisioneiros, no caso de elas serem verdadeiras.
De acordo com o Washington Post, os centros de detenção foram estabelecidos depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos.
A motivação para manter essas instalações em solo estrangeiro seria evitar que as prisões e interrogatórios sejam regidos pelas leis americanas, com base nas quais os prisioneiros poderiam contestar o encarceramento por tempo indefinido.
Segundo o jornal, cerca de 30 presos, considerados suspeitos de terrorismo, estão sendo mantidos nos "locais negros" da CIA. Outros 70 teriam sido entregues aos serviços de inteligência do Egito, Marrocos, Afeganistão e outros países.
A reportagem também indicou que o Afeganistão e a Tailância abrigavam prisões secretas, que teriam sido fechadas. A Tailândia negou a alegação.