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'Não' francês torna incerto o futuro da União Européia | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
A rejeição da Constituição da União Européia pelos franceses no domingo deixou os líderes europeus sem saber o que vai acontecer com o bloco no futuro. Apesar do "não" da França, eles insistiram que o processo de ratificação deve continuar a acontecer nos outros países-membros da UE. Irlanda, Dinamarca e Polônia disseram que o resultado não vai alterar seus planos de realizar seus próprios referendos sobre o tema. O ministro das Relações Exteriores da Itália, Gianfranco Fini, disse que a ratificação precisa continuar em outros países como o planejado. O primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, afirmou que a hora de analisar o problema será depois que todos os 25 países-membros realizarem suas votações. Blair pede tempo Mas o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, de férias na Itália, afirmou que ainda é cedo demais para definir se levará o assunto a consulta popular no próximo ano como se previa anteriormente. Ele pediu que haja agora um "tempo para reflexão", afirmando que a rejeição da Constituição na França levanta profundas questões sobre o futuro da integração e da economia da Europa. Blair acrescentou que é preciso aguardar também o resultado da votação na Holanda, na quarta-feira, onde as pesquisas também indicam forte possibilidade de rejeição à nova Carta da União Européia. A Grã-Bretanha assume a presidência rotativa da UE em 1º de julho. Líderes europeus devem se reunir em 16 de junho para debater formas de salvar o tratado do fracasso ou os caminhos a seguir caso a proposta seja arquivada. Segundo o analista da BBC Paul Reynolds, não há um plano B para a União Européia e o futuro do bloco e de sua integração ainda não está claro. Crise O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, disse que agora existe "um problema sério" e que as negociações sobre a Constituição não devem ser retomadas. Javier Solana, responsável pela área de política externa da União Européia, insistiu que o papel internacional do bloco não pode se alterar e alertou os europeus sobre o perigo de entrar em uma "zona de paralisação psicológica". Segundo o resultado oficial, 54,87% dos eleitores franceses votaram pelo "não" à ratificação do documento, enquanto 45,13% votaram pelo "sim". O resultado também representa uma derrota para o governo francês, especialmente para o presidente, Jacques Chirac, que vinha fazendo campanha pela ratificação. Chirac Chirac, em discurso na TV francesa depois que ficou clara a derrota do "sim", disse que a decisão do povo francês é soberana, mas ressaltou que a rejeição da Constituição vai tornar difícil a defesa dos interesses da França na Europa. O presidente indicou que uma decisão sobre o futuro do governo francês deve ser tomada nos próximos dias - dando a entender que podem ocorrer mudanças no gabinete. O comparecimento dos franceses às urnas foi de cerca de 70%. A correspondente da BBC em Paris, Caroline Wyatt, disse que o resultado do referendo é um verdadeiro terremoto político, com reflexos que podem ser sentidos em toda a Europa. Na segunda-feira, franceses favoráveis ao "não" se reuniram para comemorar na Praça da Bastilha em Paris, palco principal da Revolução Francesa. Os franceses que rejeitam a Constituição da União Européia têm variados perfis políticos. Há desde socialistas até membros de partidos de direita. Um dos líderes de direita que se opuseram à ratificação do documento, Philippe de Villiers, disse que a "Europa precisa ser reconstruída. Não há mais Constituição". Villiers disse que Chirac precisa agora se afastar do poder ou dissolver o Parlamento. Ansiedade e expectativa O ministro das Relações Exteriores francês, Michel Barnier, disse que o resultado é "decepcionante". Ele ainda acrescentou que os outros países do bloco devem continuar com as votações, independentemente do resultado na França. Nove dos 25 países-membros da União Européia já ratificaram a Constituição Européia.
A Constituição foi finalizada no ano passado depois de longas e difíceis negociações entre os governos dos países da organização. O documento inclui uma carta de direitos fundamentais e prevê a criação de um serviço diplomático europeu e de um cargo de ministro do Exterior da União Européia. A Constituição precisa ser ratificada por todos os países-membros, seja por meio de referendo ou por votação no Parlamento. A França é o segundo país da União Européia a realizar um referendo. Na Espanha, a votação teve a vitória do "sim" e a Constituição foi então ratificada pelos legisladores do país. A Alemanha aprovou o documento na sexta-feira. |
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