03 de fevereiro, 2005 - 22h19 GMT (20h19 Brasília)
Um relatório preliminar sobre supostas irregularidades no programa de troca de petróleo por comida para o Iraque, que vigorou entre 1996 e 2003, acusa o ex-diretor de beneficiar uma empresa.
O esquema, gerenciado pela ONU, permitia que o Iraque vendesse petróleo para comprar alimentos e remédio e foi criado para atenuar os efeitos de sanções internacionais contra o governo do presidente iraquiano Saddam Hussein.
O relatório, divulgado em Nova York, indica que há indícios de que o ex-diretor do programa, Benon Savan, teria solicitado ao Iraque a venda de petróleo para a empresa African-Middle East Petroleum.
O documento, escrito por uma comissão independente de três pessoas liderada pelo ex-presidente do Banco Central americano, Paul Volcker, diz que a conduta de Savan no caso foi eticamente imprópria e mina seriamente a integridade das Nações Unidas.
"Conflito de interesse"
Com cerca de 200 páginas, o relatório preliminar diz que a comissão continua investigando se Savan ou outros envolvidos se beneficiaram financeiramente do petróleo solicitado ao governo do Iraque.
Pelo programa Petróleo por Comida, o Iraque tinha o direito de escolher as empresas às quais gostaria de vender petróleo.
Os pedidos de petróleo teriam criado "um grave e contínuo conflito de interesse”" diz o documento, que explica que funcionários do governo iraquiano permitiram a venda de petróleo como o desejado por Savan em troca do apoio dele em várias questões.
O governo iraquiano, por exemplo, teria desejado receber mais verbas para fazer reparos em sua infra-estrutura, e o apoio do diretor do Petróleo por Comida poderia facilitar isso.
Savan, que já negou ter feito o pedido às autoridades de Bagdá, disse que deve divulgar uma nota ainda nesta quinta-feira comentando as alegações.
Annan
A investigação apura se há fundamento em alegações de que Saddam Hussein pode ter desviado parte dos recursos do programa para uso próprio.
O relatório preliminar no qual Volcker detalha os problemas foi entregue nesta quinta-feira ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em cinco cópias. O relatório final deverá ser apresentado em junho.
O porta-voz de Annan, Mark Malloch Brown, disse após a apresentação de Volcker que a organização vai suspender a imunidade diplomática de todos os suspeitos para que sejam investigados.
Ainda por meio de Brown, Annan prometeu agir contra os que forem considerados culpados na distrorção do programa. O secretário da ONu já havia adotado medidas discilplinares contra Sevan e um membro da sua equipe.
Na prévia divulgada desta quinta-feira, a comissão independente não trata do possível conflito de interesse envolvendo Kojo Annan, filho de Kofi Annan, que trabalhou para uma empresa que participava do programa. Volcker disse que esse assunto deverá ser abordado em outro relatório.
Críticos da ONU nos Estados Unidos consideram o escândalo no Petróleo por Comida um símbolo da incompetência da ONU e, em dezembro passado, um senador americano se tornou o primeiro a pedir a renúncia de Kofi Annan.