17 de janeiro, 2005 - 21h35 GMT (19h35 Brasília)
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que o mundo não está no caminho certo para cumprir as chamadas Metas do Milênio, que buscam reduzir a pobreza pela metade até 2015.
Doenças, guerras e incompetência, combinadas a uma falta de vontade política no mundo desenvolvido, tornaram as metas praticamente sem sentido, de acordo com o documento, cujo principal autor é o economista americano Jeffrey Sachs.
O relatório cobra um grande aumento nos gastos com desenvolvimento e mudanças nas condições do comércio entre países ricos e pobres.
Apesar das conclusões do estudo, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que as Metas do Milênio não são uma utopia e sim "altamente alcançáveis".
'Não funciona'
"Muitos países estão fazendo progressos verdadeiros para alcançar (as metas), mas outros não estão se movendo de forma rápida o bastante", disse Annan.
O especialista da BBC em Mundo em Desenvolvimento, David Loyn, disse que o relatório é uma tentativa de reunir, na ONU, mudanças reais com as declarações grandiosas.
"O sistema não está funcionando agora, vamos ser claros", disse Sachs.
"A realidade esmagadora no nosso planeta é que as pessoas mais pobres ficam doentes e morrem por falta de acesso a meios práticos básicos que poderiam ajudá-las a se manterem vivas, e fazer mais do que isso, ajudá-las a terem meios de vida e escapar da pobreza."
'Tsunami silencioso'
Sachs pede um maior volume de investimentos em obras de infra-estrutura nos países pobres, a fim de que eles possam se tornar mais competitivos.
Ele falou da malária, que mata todos os meses tantas pessoas quanto o desastre do tsunami no Oceano Índico, e que poderia ser facilmente evitada por meio de medidas como o fornecimento de mosqueteiros.
"Todos os meses, 150 mil crianças na África, se não mais, morrem de um tsunami silencioso de malária, uma doença que, de forma geral, pode ser
prevenida e tratada", disse Sachs.
Segundo o economista, os recursos necessários para atingir as metas estão dentro da capacidade dos países mais ricos do mundo.
No entanto, apenas cinco países – Dinamarca, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Suécia – alcançaram as metas que eles próprios se impuseram de fornecer 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em recursos para assistência ao desenvolvimento.
Renda média
O relatório é um apelo por mais idéias desenvolvidas em conjunto, de modo que os países mais pobres possam desenvolver estratégias de redução da pobreza mais factíveis e que tenham condições de ser financiadas.
O estudo recomenda que alguns países mais pobres e bem governados deveriam receber asistência de forma mais rápida, enquanto outros com problemas de não cumprimento de direitos humanos não deveriam receber assistência em larga escala.
No entanto, condicionar assistência ao atendimento de uma lista de condições sobre a boa administração de um país é algo altamente controverso.
Países de renda média com bolsões de miséria extrema, como a China, o Brasil, a Malásia, o México e a África do Sul deveriam eliminar esses bolsões, diz o relatório.
As soluções de Sachs não são tão radicais como gostariam alguns observadores, segundo o especialista da BBC David Loyn.
O relatório não fala, por exemplo, de algo que o próprio Sachs já defendeu, como a suspensão pelos países pobres do pagamento das dívidas que sejam um obstáculo à redução da pobreza.