Já fui homem de tomar umas e outras por aí. Chopinho, conhaque Dreher, gim tônica e, quando havia um dinheirinho, whisky. Que fique bem claro: whisky e jamais whiskey ou uísque. Whisky pra valer é com ipsilone e sem a letra E.
Com E, é coisa de americano, bourbon, ou algo vindo do Tennessee. Com U e o acentinho eram os fabricados no Brasil, que tive o modestíssimo prazer de conhecer, tomar e depois destomar, quando eu era jovem, inocente e pobre.
Os nomes das marcas diziam tudo: Mansion House, Balmoral e, principalmente e acima de tudo, o Old Lumquar, vulgo Velho Lumumba, conforme sua ficha policial.
Os uísques nacionais eram péssimos e simpáticos. Hoje, prefiro suco de frutas, refrigerante gasoso e sinto mais falta de um refresco de groselha do que de uma boa dose de Buchanan´s servida no bar da moda, ou pelo menos que eu frequentasse, lá pelos idos dos anos 50, 60, 70 – e paremos por aí que aqui não existe o equivalente ao milagroso Engov.
Indiano
Tudo esse meu porre de passado é para dizer que tem uísque novo na praça. Praça indiana, que fique bem claro. Como é que se diz então? Ruísque? Taj-Uísque?
Não sei. Sei apenas que seu nome é Amrut e é destilado em Bangalore. Meu deus, ou meu Shiva, água destilada em Bangalore eu hesitaria em tomar, quanto mais úisque!
Os indianos não pararam aí. A danada da bebida é envelhecida em barris de carvalho importados dos Estados Unidos e a cevada é colhida aos pés dos Himalaias. A água vem do rio Cauvery, onde é de se esperar que, ao contrário do Ganges, não haja banhos purificadores.
Não bastasse, os indianos responsáveis pelo atentado decidiram que o Amrut é um single malt, quer dizer, baseado em puro malte, cevada maltada proveniente de uma única destilaria – a lá de Bangalore, se é que isso recomenda alguma coisa. Depois ele fica envelhecendo num canto até completar quatro anos, ao que parece idade longeva no país de Gandhi e Gunga Din.
O mais grotesco nessa história toda é que fizeram o teste com uisqueiros lá da cidade de Glasgow, na Escócia, que deveriam estar mais por dentro, e todos foram unânimes em estalar a língua e lamber os beiços, como o fazem os bêbados em sua vida cercada de lugares-comuns.
Amrut, por sinal, quer dizer “néctar dos deuses”, no idioma predominante na Índia. Por mim, na hora de derramar uma para o santo, pode despejar tudo.