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Atualizado às: 24 de janeiro, 2004 - 11h01 GMT (09h01 Brasília)
 
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Brasil quer relações intensas com países do sul, diz Amorim
 

 
O chanceler Celso Amorim
Chanceler quer acordo com os EUA para eliminar exigência de vistos
 

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse que a viagem do presidente Lula à Índia, que começa neste fim de semana, é mais um passo na política do governo de promover a aproximação dos países em desenvolvimento do hemisfério sul.

Em entrevista à BBC, Amorim destacou a criação do G3, grupo formado por Brasil, Índia e África do Sul.

"Há um grande déficit social com o qual precisamos lidar, e isso é algo essencial que une nossos países", afirmou Amorim.

Sobre as relações com os Estados Unidos, ele declarou que o Brasil está comprometido a trabalhar para encerrar as negociações da criação da Alca até o fim do ano, mas que "o conteúdo é mais importante que a data".

Reciprocidade

O chanceler voltou a afirmar que o Brasil está aplicando o princípio de recriprocidade nas relações internacionais ao adotar o "fichamento" dos turistas americanos que visitam o país.

O Brasil, disse ele, quer que Washington inclua o país na lista das nações cujos cidadãos não precisam de visto para entrar nos Estados Unidos.

"Temos sido aliados pelos últimos cem anos, fomos o único país latino-americano que combateu junto com os EUA na Segunda Guerra", afirmou. "Por que devemos ser tratados de maneira pior que países novos que quase não têm uma história com os EUA?"

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

BBC - Por que Lula vai à Índia e por que agora?

Celso Amorim - Desde o começo de seu governo o presidente Lula escolheu a Índia como um dos principais países para nossa atividade diplomática. Os chefes de governo já se encontraram antes em Evian e em Nova York, e se encontrarão agora pela terceira vez.

Queremos criar relações reais e intensas com os grandes países do sul, os países em desenvolvimento. Criamos o G3, formado por Brasil, África do Sul e Índia, três grandes democracias que também querem democratizar as relações internacionais.

Há muito para se fazer em termos de comércio, ciência e tecnologia e nossas posições são parecidas nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Temos tanto em comum que é importante que nossos líderes tenham esse contato.

BBC - A Índia é uma parte do mundo com tensões políticas como a questão da Caxemira. Qual a sua avaliação sobre as possibilidades de comércio a longo prazo entre o Brasil e a Índia?

Amorim - Há tensões em outras áreas do mundo também. Vejo a situação melhorando entre a Índia e o Paquistão, o que é muito positivo do nosso ponto de vista, já que quanto mais pacífico são os países melhores são as possibilidades de atividade económica também.

Nossas relações econômicas com a Índia têm crescido bastante, em setores como medicamentos, softwares que compramos, aviões que vendemos. Acho que há um grande potencial para joint-ventures.

Também estamos apostando na cooperação trilateral com a África do Sul. Isso será algo novo, três países em desenvolvimento terão um encontro em março para discutir não apenas politica, mas também projetos concretos de cooperação.

BBC - Até que ponto esses países podem desenvolver uma agenda social única?

Amorim - É díficil falar de uma agenda única, mas pode-se falar de uma motivação principal. Há um grande déficit social com o qual precisamos lidar, e isso é algo essencial que une nossos países.

BBC – As negociações para a conclusão do acordo da Alca estão previstas para terminar no final deste ano. O Brasil está comprometido em cumprir este prazo?

Amorim – Sim, estamos comprometidos com a data, mas também com um bom conteúdo. A data não é mais importante que o conteúdo. É claro que algumas coisas que nos são importantes, como a eliminação de subsídios e antidumping são coisas que os EUA querem discutir na OMC. E há outros pontos que também estão além do comércio e são temas delicados para o Brasil, como regras para investimentos, que preferimos discutir na OMC. Essas são questões sistêmicas que não podem ser debatidas apenas no hemisfério.

BBC – Ainda sobre a Alca, alguns comentaristas dizem que enquanto a questão da agricultura for deixada de fora da mesa de negociações pelos Estados Unidos, o Brasil vai tentar diluir e adiar qualquer acordo, agindo como um obstáculo.

Amorim – Se a agricultura ficar de fora da mesa, então o acordo já estará diluído desde o início, então não haverá necessidade de diluir nada. Não temos a preocupação de diluir, queremos um acordo equilibrado, em que as coisas que são importantes para que mantenhamos nosso modelo de desenvolvimento possam ser preservados.

BBC – A idéia de que o Brasil deveria fotografar e tirar impressões digitais de turistas americanos partiu de um juiz. Por que o governo brasileiro interveio para ampliar isso?

Amorim – O principio em que são baseados as relações internacionais são o principio da reciprocidade. Entendemos as preocupações dos Estados Unidos com relação à segurança. E estamos preparados para oferecer a eles as mesmas condições de segurança que os outros 27 países isentos (de ter seus cidadãos fichados ao entrar nos EUA).

Recipriocidade não é tratar o outro povo de forma ruim, é garantir que o nosso povo seja tratado de forma positiva. Isso é o que o presidente Lula mencionou ao presidente Bush num encontro em Monterrey.

Temos sido aliados pelos últimos cem anos, fomos o único país latino-americano que combateu junto com os EUA na Segunda Guerra. Por que devemos ser tratados de maneira pior que países novos que quase não têm uma história com os EUA? Acho que é possível achar soluções positivas para isso com base em reciprocidade e respeito mútuo.

BBC – Washington argumenta que suas medidas dizem respeito a todos que chegam ao país com um visto, enquanto a medida do Brasil é discriminatória contra os Estados Unidos.

Amorim – Como você decide quem deve ter um visto ou não? Eles têm um critério matemático. Claro que como um país soberano os Estados Unidos podem ter o critério que quiserem. Mas acho que em fatos humanos e sociais, o critério matemático não é sempre o melhor.

BBC – O que o sr. diz àqueles que observam a política externa do Brasil no último ano e afirmam que vocês definem a sua política fazendo oposição aos Estados Unidos, seja com relação ao comércio, ao Iraque, à imigração?

Amorim – Não fomos nós que começamos com os procedimentos de imigração neste caso. A questão da coleta de impressões digitais é apenas a ponta do iceberg. Mas não queremos retaliar, queremos reciprocidade positiva. Se queremos a Alca, se queremos a integração do hemisfério, você precisa fazer o acesso às pessoas mais fácil e não mais difícil. E é isso que buscamos.

 
 
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