O programa de enriquecimento de urânio brasileiro é uma ameaça ao regime de não-proliferação nuclear tanto quanto são programas semelhantes desenvolvidos por nações hostis aos Estados Unidos – Irã, Iraque, Líbia e Coréia do Norte.
Essa é a opinião de dois especialistas americanos, James Goodby e Kenneth Weisbrode, que publicaram artigo na edição online do jornal International Herald Tribune.
"O Brasil nutriu ambições nucleares durante algum tempo, mas pensava-se que as havia sepultado há uma década", diz o artigo.
Para os autores, o anúncio na semana passada de que o país pretende começar a enriquecer urânio em 2004 sugere que suas aspirações nucleares apóiam-se "em questões de economia e status".
Os analistas acreditam também que os Estados Unidos devem garantir "que as normas mais rigorosas anti-proliferação se apliquem não apenas a inimigos distantes, mas também a amigos na vizinhança".
Ambígüidade
Para Goodby e Weisbrode, a administração Bush tem mantido uma posição ambígua sobre o assunto.
O artigo diz que Luiz Inácio Lula da Silva "tem razão quando supostamente afirmou em sua campanha presidencial que o tratado (de não-proliferação nuclear) é inerentemente injusto".
Goodby e Weisbrode explicam que o tratado reconhece a injustiça entre os regimes que possuem e os que não possuem tecnologia nuclear, mas tem como ponto positivo o fato de instar as potências nucleares a reduzirem e eliminarem suas próprias armas atômicas, "o que tem ocorrido, embora lentamente".
James Goodby foi negociador-chefe para cooperação para a redução de ameaças no governo Bill Clinton, e Kenneth Weisbrode integra o Conselho Atlântico, uma entidade sediada nos Estados Unidos.