Ainda se usa no Brasil a expressão dar a mão à palmatória? Mesmo que não se use eu dou a minha cantando, para que fique bem claro, “Errei Sim”, na minha melhor imitação de Dalva de Oliveira.
Há uns dois ou três meses eu gozei aqui, neste espaço e tempo que me cabem, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, pelo seu uso quase hermético da língua inglesa. O exemplo de que me vali foi catado nos jornais, como quase tudo que eu reciclo. Viver é ler os jornais, proponho numa tentativa de defender minha honra.
O que há é o seguinte, Rumsfeld, ou Rummy, como é carinhosamente conhecido pela imprensa, andou falando em “coisas conhecidas e desconhecidas” numa longa sentença que logo a maldade dessa gente (e minha ignorância somada à fé na mídia) gozou furiosamente devido à sua aparente falta de jeito e mesmo de sentido.
Na semana passada, em editorial, o jornal britânico The Guardian, de esquerda, frise-se, e contra quase tudo que Donald Rumsfeld representa, veio jogar algumas luzes na questão. Gozou, isto sim, a entidade que representa a preservação do inglês simples e direto (The Plain English Campaign) afirmando que o comentário de Rumsfeld era, embora complexo, quase que kantiano.
Bastava alguma concentração para acompanhar o pensamento do secretário de Defesa americano. E republicou a frase, que eu aqui reproduzo, por mim traduzida com o maior cuidado, embora com as mãos ainda ardendo da palmatória.
Basta prestar bastante atenção no depoimento: “Relatos que dizem que uma coisa não aconteceu sempre me parecem interessantes, porque, como sabemos, há coisas conhecidas conhecidas, há coisas que sabemos que sabemos. Nós também sabemos que há coisas conhecidas desconhecidas: ou seja, nós sabemos que há algumas coisas que nós não conhecemos. Mas há também coisas desconhecidas desconhecidas – as que não sabemos que não sabemos.”
Em inglês, leva a vantagem de, além do mais, lidar apenas com os famosos e utilíssimos monossílabos anglo-saxões. Perdão, leitores e ouvintes. Em meu nome e em nome da campanha pelo inglês simples.