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Atualizado às: 24 de outubro, 2003 - 11h20 GMT (09h20 Brasília)
 
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Pornografia: O Musical
 
Ivan Lessa


Já vi em algum lugar, num desses sites da vida informática em que a gente vai parar não se sabe direito como nem porquê, já vi, dizia eu, alguns dados relativos aos internautas.

Ao que parece 78% deles estão paradões diante de uma pornografia qualquer. Minto quanto à percentagem. As percentagens só existem com o propósito único de dar cobertura logística à mentira deslavada. Sei que era alto o número.

Nossa inteligência e sensibilidade nos dizem que a humanidade está sempre em busca de alguma safadeza tendo algo a ver com sexo. E são sempre, claro, os outros.

Nós – eu, você, nossos parentes e amigos – jamais entraríamos numa fria dessas. Nunca na vida pegamos numa daquelas revistinhas do hoje famoso Carlos Zéfiro. Ou as chamadas "dinamarquesas", quando essas foram moda.

Algo encabulados, rindo de nossas fraquezas adolescentes, somos capazes de confessar que, um dia, há muito, muito tempo, folheamos uma Playboy que um amigo nos emprestou porque queríamos ler um conto do Vladimir Nabokov ou uma reportagem do Norman Mailer.

Em suma, talvez o maior e único malefício da pornografia seja o de nos fazer mentir. Mais: pornografia é, salvo raríssimas exceções, a um só e mais ninguém. E não precisamos entrar em maiores detalhes. Detalhes atrapalham a pornografia.

O bom de se chegar a uma certa idade é poder mentir à vontade. Os outros, coitados, pobres moços, como no samba do Lupiscínio Alves, respeitarão nossos cabelos brancos (outro samba) e não nos chatearão.

Essas considerações são a respeito de um programa que o Channel Four britânico apresentou esta semana com o título de Pornografia: O Musical e que era precisamente o que se anunciava.

Profissionais falavam de sua profissão e, em certos trechos, cantavam as letras de um poeta razoavelmente conhecido, Simon Armitage, com a música de outro compositor do mesmo gabarito, seu xará Simon Boswell.

Foram 60 minutos chatíssimos, posso dizer sem a menor hipocrisia. Não dava nem para cantarolar junto, nem nada junto, sequer entrar num clima, digamos assim, de voyeurismo ou "auditismo". Em suma: não era nada. Nem musical, nem pornografia.

A única coisa que correspondia ao título era o artigo definido O. Que era O, lá isso era. E talvez nisso se resuma a questão da pornografia. Ela só funciona quando insinuada, ligeiramente vislumbrada e, de preferência, nunca em horário nobre em canal de televisão aberto.

 
 
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