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Atualizado às: 12 de junho, 2003 - 12h50 GMT (09h50 Brasília)
 
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Análise: Quem errou no caso das armas do Iraque?
 

 
 
Tony Blair, primeiro-ministro britânico
Blair diz que acusações sobre dossiê são falsas
Finda a guerra no Iraque, a batata quente continua sendo passada de mão em mão entre líderes políticos e seus conselheiros nas agências de informação.

Há duas questóes principais. Teriam os governos britânico e americano exagerado as informações sobre o suposto arsenal de armas de destruição em massa do Iraque para justificar a guerra?

E estariam incorretas as informações das agências?

Uma terceira questão diz respeito a um relatório do governo britânico citando violações aos direitos humanos pelo governo iraquiano.

Enfático

O documento, descobriu-se depois, teria sido parcialmente baseado em um trabalho feito por um estudante americano.

A veracidade do relatório não foi questionada, mas a fonte não foi propriamente indicada, o que coloca em dúvida a credibilidade do governo.

Em relação à primeira questão, o primeiro-ministro Tony Blair voltou ao ataque.

Em uma coletiva para a imprensa em Londres, na terça-feira, Blair disse que não existe qualquer indicação de que seu governo teria "manipulado" informações.

Respendendo a acusações de que seus assessores, contrariando os conselhos dos serviços de informação, insistiram em afirmar que o Iraque estaria apto a colocar em uso algumas de suas armas químicas dentro de um intervalo de 45 minutos, Blair foi enfático: "Posso afirmar que isso é totalmente falso".

O primeiro-ministro britânico parece confiante. E de fato, existe uma frase no dossiê do governo britânico sobre as armas iraquianas, publicado no dia 24 de setembro do ano passado, que deve deixar Blair muito satisfeito.

A frase, incluída numa parte do relatório onde são listadas todas as supostas armas de destruição em massa iraquianas, é a seguinte:

"Essas conclusões refletem a visão do Comitê de Inteligência (JIC, na sigla em inglês)."

O comitê é o órgão que aconselha o primeiro-ministro em questões ligadas aos serviços de informação, e o nome JIC está claramente incluído no dossiê.

Esse é o tipo de frase que os advogados gostam de encontrar em documentos. A batata pára aqui.

Para um político, isso é muito confortante.

O comitê parlamentar de Inteligência e Segurança está fazendo investigações para esclarecer se o governo britânico fez mau uso das informações recebidas.

Alguns querem um inquérito público.

O comitê, apontado pelo primeiro-ministro, faz suas investigações em segredo.

No dia 8 de maio, solicitou cópias dos documentos do serviço de inteligência em que o dossiê das armas do Iraque foi baseado.

O comitê deverá responder diretamente ao primeiro-ministro e prometeu publicar seu relatório.

Mas isso é apenas a metade da questão.

Confiabilidade

Também está em jogo o desempenho dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

Aqui, vale mencionar algumas das afirmações feitas antes da guerra e o que foi constatado depois.

As afirmações foram feitas em dois dossiês, um do governo britânico, outro da Central de Inteligência Americana (CIA na sigla em inglês).

Várias instituições privadas de informação publicaram relatórios similares.

  • O Iraque teria tentado obter urânio de um país africano (Niger), apesar de não possuir um programa nuclear civil. A afirmação foi questionada pelo próprio órgão de controle nuclear da ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês). Segundo a agência, a afirmação teria sido baseada em documentos falsos.

  • O Iraque teria tentado importar milhares de tubos que poderiam ser usados em centrífugas para separar urânio enriquecido, uma afirmação feita no relatório da CIA. A IAEA disse que os tubos poderiam ser usados para fabricar foguetes pequenos.

  • Os supostos 45 minutos, citados apenas no dossiê britânico. Descobriu-se mais tarde que a afirmação teria sido baseada em informações de um desertor, sem o endosso de outras fontes. Nenhuma evidência confirmando a afirmação foi encontrada até agora.

  • O Iraque teria 20 mísseis Scud proibidos pelas sanções da ONU. Nenhum míssil desse tipo foi encontrado. O país também foi acusado de desenvolver aviões capazes de pulverizar produtos químicos. Um avião (crude plane?) foi encontrado.

  • O Iraque teria laboratórios móveis para travar guerras químicas. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, apresentou representações gráficas dos laboratórios, baseadas em relatos de um desertor, durante seu pronunciamento no Conselho de Segurança. Três veículos foram encontrados.

Eles representam a evidência mais concreta, até o momento, de produção de armas ilegais pelo Iraque. Recentemenete, a CIA publicou um relatório descrevendo os veículos, concluindo que eles eram usados para armas biológicas. Entretanto, alguns especialistas dizem que ós veículos poderiam ter sido usados para fazer hidrogênio para balões de artilharia.

  • O Iraque "continuou a produzir agentes químicos e biológicos" (dossiê britânico). O Iraque "prossegue com seu programas de armas de destruição em massa" (CIA). A CIA também disse que o Iraque tinha "gás mostarda, sarin, cyclosarin e VX".

Tais agentes não foram encontrados, embora o Iraque tivesse a capacidade de fabricar produtos químicos de duplo uso (ou seja, que poderiam ser usados para fins pacíficos ou não).

  • Os inspetores de armas da ONU disseram que grandes quantidades de material encontrado em inspeções anteriores, como antraz, material biológico e gás VX, não foram localizadas. O material não foi encontrado. Será que existe? Teria sido destruído?

  • Os Estados Unidos disseram que o Iraque estaria dando abrigo a membros da organização Al-Qaeda. Não foram estabelecidos vínculos claros entre o Iraque e a Al-Qaeda.

Na contagem final, a evîdência parece fraca, ou simplesmente não se sustenta. É preciso acrescentar, no entanto, que se a existência do laboratório biológico for confirmada, isso seria prova de que o Iraque violou resoluções da ONU.

Washington

É verdade que o desempenho das agências de inteligência causou menos polêmica em Washington do que em Londres, mas os poderosos comitês do Congresso americano estão agitados.

O chefe da Defense Intelligence Agency, vice-almirante Lowell Jacoby, foi chamado pelo Comitê das Forças Armadas do Senado para explicar por que um relatório vazado datando de setembro último concluiu: "Não há evidência confiável de que o Iraque está produzinhdo e estocando armas químicas".

O vice-almirante declarou que a frase foi citada "fora do contexto". A afirmação dizia que "não fomos capazes de localizar individualmente os arsenais".

O presidente republicano do comitê ainda reluta em iniciar investigações formais.

Mas isso ainda pode acontecer. Não devemos esquecer que o congresso abriu inquéritos devastadores após o desastre de Pearl Harbor.

 
 
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