Quem é Michael Flynn, o ex-assessor de Trump que confessou ter mentido ao FBI e foi perdoado pelo presidente

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perdoou seu ex-conselheiro de segurança nacional Michael Flynn, que havia se declarado culpado de mentir para o FBI (a polícia federal americana).

Segundo Trump, o ato de clemência há muito aguardado foi graças à "grande honra" de Flynn.

O ex-assessor foi condenado durante uma investigação do Departamento de Justiça sobre as suspeitas de interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, na qual o republicano Trump derrotou a democrata Hillary Clinton.

Líderes do Partido Democrata condenaram o perdão presidencial. Para a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, Trump cometeu "um ato de grave corrupção e um descarado abuso de poder".

A Casa Branca, por outro lado, afirmou que o perdão concedido finalmente encerraria "a perseguição partidária e implacável contra um homem inocente".

Flynn, que admitiu em 2017 ter mentido para o FBI sobre contatos com o embaixador da Rússia, mas depois tentou revogar sua admissão formal, respondeu postando um tuíte contendo um emoji da bandeira dos EUA e um versículo bíblico, Jeremias 1:19.

O versículo diz: "Eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu sou contigo, diz o Senhor, para te livrar."

Quem é Michael Flynn?

O tenente-general de três estrelas reformado do Exército dos EUA foi um dos primeiros e mais fervorosos defensores de Trump durante a campanha de 2016, embora já tivesse sido ligado ao Partido Democrata.

Flynn esteve entre as primeiras nomeações do novo presidente, poucos dias após Trump vencer a eleição.

Os dois concordavam em muitas questões, incluindo as vantagens de laços mais estreitos com a Rússia, a renegociação do acordo nuclear com o Irã e o combate à ameaça de militantes do Estado Islâmico.

Mas ele durou apenas 23 dias como assessor de segurança nacional, posto do principal conselheiro do presidente para assuntos internacionais e defesa.

Trump o demitiu depois que se soube que ele havia discutido a suspensão de sanções contra a Rússia com o embaixador de Moscou em Washington antes de Trump assumir a Presidência, e não falou a verdade ao vice-presidente, Mike Pence, sobre esse diálogo.

Embora inicialmente ele tenha concordado em cooperar com os investigadores, Flynn pediu para retirar sua confissão de culpa em janeiro deste ano, argumentando que havia sido enganado no acordo.

O Departamento de Justiça tentou que as acusações contra ele fossem retiradas, o que gerou uma batalha judicial que durou boa parte de 2020.

O ex-presidente Barack Obama disse ter advertido Trump contra a contratação de Flynn menos de 48 horas após a eleição de 2016.

Apoiadores de Flynn o veem como vítima de uma vingança política do governo Obama para deslegitimar o novo governo Trump com alegações de conluio russo.

Uma investigação de 22 meses liderada pelo renomado ex-diretor do FBI Robert Mueller concluiu em 2019 que a Rússia interferiu nas eleições de 2016, mas não encontrou evidências de uma conspiração criminosa entre Moscou e a equipe de campanha presidencial de Trump.

O comunicado da Casa Branca na quarta-feira descreveu Flynn como "vítima de funcionários do governo partidário envolvidos em uma tentativa coordenada de subverter a eleição de 2016".

Trump fez frequentemente acusações, sem provas, de que milhões de votos foram computados ilegalmente em 2016 e continua a fazer afirmações infundadas de fraude na eleição de 2020.

Quem mais Trump perdoou ou comutou?

Perdões presidenciais anulam condenações enquanto as comutações diminuem a punição. Ambos são direitos de clemência garantidos ao presidente pela Constituição americana.

É comum que presidentes que estão deixando o cargo concedam perdões.

Atualmente, Trump tem o menor número de perdões e comutações do que qualquer presidente moderno dos EUA, de acordo com o Pew Research Center. Seu antecessor, Barack Obama, concedeu 212 indultos e 1.715 comutações, um recorde desde o presidente Harry Truman (1945-53).

Aqui estão alguns dos nomes entre os 28 perdões e as 16 comutações que Trump emitiu até agora:

  • Roger Stone, um aliado de longa data, foi condenado no ano passado por mentir ao Congresso e influenciar testemunhos. Ele teve sua sentença de prisão comutada
  • O "xerife mais duro" do Arizona, Joe Arpaio, condenado por desacato após desafiar uma ordem para impedir as patrulhas que miravam supostos imigrantes indocumentados. Foi perdoado
  • Scooter Libby, chefe de gabinete do ex-vice-presidente Dick Cheney, que foi considerado culpado de mentir sobre vazamentos para a mídia. Também foi perdoado
  • Susan B Anthony, pioneira dos direitos de voto das mulheres, que foi condenada por voto ilegal e multada em 1873. Recebeu um perdão póstumo
  • Crystal Munoz, Judith Negron e Tynice Hall, três mães de crianças que estavam cumprindo penas por crimes de drogas e de colarinho branco e cujos casos foram levados ao presidente por Kim Kardashian. As três tiveram suas sentenças comutadas

Segundo a mídia americana, vários aliados de Trump também esperam clemência nos próximos dias, incluindo os ex-conselheiros presidenciais Rick Gates e George Papadopoulos, ambos condenados após a investigação de Robert Mueller sobre a interferência russa na eleição de 2016.

Qual foi a reação ao perdão de Flynn?

Membros do Partido Republicano descrevem Flynn como um herói que sofreu um processo injusto.

O senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, disse: "O general Flynn NÃO era um agente russo. Em vez disso, ele foi vítima de uma investigação e processo por motivos políticos, onde os fins justificam os meios".

Na Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), o líder da minoria republicana Kevin McCarthy tuitou: "O que aconteceu com @GenFlynn foi uma desgraça nacional. Nenhum americano deve ser alvo por simplesmente pertencer a um determinado partido político."

Mas os democratas condenaram rapidamente o perdão dado por Trump.

Em nota, Pelosi afirmou: "Infelizmente, este perdão é mais uma prova de que Trump planeja usar seus últimos dias no cargo para minar o Estado de Direito após sua Presidência fracassada".

O presidente da Comissão Judiciária da Câmara, Jerrold Nadler, disse que "esse perdão é imerecido, sem princípios e mais uma mancha no legado do presidente Trump, que está diminuindo rapidamente".

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!