Quem é Lana Lokteff, a estrela da supremacia branca nos EUA para quem mulheres 'só querem ser bonitas, casar e ter filhos'

A ativista Lana Lokteff
Legenda da foto, Lana Lokteff nasceu em Oregon e tem ascendência russa | Foto: Arquivo pessoal

Em geral, os participantes de protestos supremacistas nos Estados Unidos parecem ter características semelhantes: são geralmente jovens, agressivos e, claro, homens brancos.

Mulheres raramente eram vistas nas reuniões de grupos como o Ku Klux Klan, neonazistas ou representantes da chamada alt-right (uma abreviação de "alternative right", ou direita alternativa) - movimento que se opõe à imigração e ao multiculturalismo, que apoia a supremacia branca e que ganhou grande visibilidade ao apoiar a campanha de Donald Trump à Presidência do país.

Mas isso está mudando - há mais e mais mulheres nessas organizações. Uma das mais famosas dessas ativistas disse que "Trump ganhou a Presidência graças ao voto das mulheres nacionalistas brancas".

A frase é de Lana Lokteff, a chamada "abelha rainha da alt-right" nos Estados Unidos.

Ela é uma das poucas mulheres nos EUA que mostra sem reservas seu apoio às ideologias supremacistas.

"Não tenho medo de falar, nem tenho medo de usar o meu nome real e, portanto, muitas pessoas acabando voltando seus olhos para mim", afirmou Lokteff à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Donald Trump olha para seus simpatizantes

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Membros da 'alt-right' apoiam muitas propostas que os defensores de Donald Trump aplaudem, como a restrição à entrada de muçulmanos e a expulsão de imigrantes

"Nós somos o equivalente nos Estados Unidos aos nacionalistas europeus, tentando recuperar nossa identidade e nossas raízes europeias", diz ela.

"Queremos ter países brancos para pessoas brancas, em que nós brancos sejamos a maioria."

"Apoiamos valores tradicionais e nos posicionamos contra a globalização, as fronteiras abertas e os valores liberais", acrescenta.

Críticos classificam o movimento como racista e misógino.

Polêmica e atípica

Branca, loira e de olhos claros, Lokteff é o protótipo do ideal que promove.

Lana Lokteff
Legenda da foto, Lokteff apresenta um programa de rádio no conglomerado de comunicação dirigido pelo marido | Foto: Arquivo pessoal

Para propagar suas ideias nacionalistas, ela apresenta um programa de rádio em uma das estações do Red Ice - um conglomerado de mídia administrado por seu marido, o sueco Henrik Palmgren.

A própria Lokteff justifica porque há poucas mulheres que se destacam entre os figurões da direita nacionalista ou da extrema-direita.

"Você sabe o que acontece ... se você diz abertamente que é nacionalista e defende os valores de sua identidade, automaticamente é chamada de nazista, racista, do KKK... Muitas mulheres não conseguem lidar com essas críticas", diz Lokteff.

"Muitas mulheres querem apenas ter uma vida pacífica e não querem se sentir deixadas de fora por causa de suas opiniões. Eu não sou assim."

Protesto de supremacistas

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Os grupos supremacistas brancos são frequentemente associados a homens jovens e agressivos

Lokteff afirma que mais e mais mulheres apoiam suas ideias, mas que elas não são visíveis porque "operam nos bastidores".

"Elas não se envolvem na política: não resistem à pressão e não querem ser chamadas de racistas."

"Mas elas estão lá, são esposas, mães, irmãs e estão apoiando o movimento. Muitas delas escutam meus programas. Eu sei disso porque recebo muitas mensagens de mulheres nacionalistas deste país."

"Não esqueçamos que Trump ganhou a presidência graças ao voto das mulheres nacionalistas brancas".

Esta "passividade", diz Lokteff, "acontece porque a política sempre foi um domínio dos homens."

Mas há outro problema. Como em muitos outros movimentos de direita nos EUA, a alt-right tem em sua raiz ideias de superioridade branca e masculina.

E as mulheres, tanto as da raça branca que simpatizam com a ideologia quanto as mulheres em geral, são muitas vezes alvo de ataques misóginos, sendo consideradas inferiores e "uma ameaça ao poder dos homens".

Richard Spencer, o supremacista que afirma ter inventado o termo alt-right e um dos principais promotores do movimento, criticou a ex-secretário de Estado - e rival de Trump - Hillary Clinton, dizendo no Twitter que "as mulheres não deveriam ser autorizadas a participar em questões de política externa. Não porque sejam 'fracas'. Pelo contrário, é porque sua sede de vingança não tem limites".

E Andrew Anglin, fundador do site supremacista Daily Stormer, declarou uma vez que os úteros das mulheres brancas "pertencem aos homens da sociedade".

Contra o feminismo

Em uma reportagem na revista Harper sobre mulheres da extrema-direita, a jornalista Seyward Darby descreve Lokteff como "uma guerreira apaixonada pela alt-right, o mais próximo que o movimento pode ter de uma abelha rainha".

Protesto de supremacistas
Legenda da foto, A alt-right tem em sua raiz ideias de superioridade branca e masculina

De acordo com Darby, muitas mulheres se juntaram ao movimento por serem contra o feminismo.

"Eles sentem que a agenda progressista do feminismo não atende a seus propósitos", diz Darby. "E em alguns casos elas sentem que [o feminismo] está ativamente ignorando-as porque elas querem coisas mais tradicionais: o lar, a família, etc."

A própria Lokteff afirma que "as mulheres modernas são muito infelizes por causa do feminismo e da igualdade que conseguiram em certos aspectos com os homens".

"O que aconteceu é que, com o chamado feminismo e a chamada libertação, o que foi conquistado foi a necessidade de trabalhar e de crescer nas carreiras", diz Lokteff.

"E elas chegam aos 40 anos de idade e percebem: que horror, não tenho família, não tenho filhos, não tenho um homem e me sinto muito sozinha."

"Ouço isso o tempo todo das mulheres que me escrevem e me contam que se arrependem de não ter tido filhos, tendo se deixado levar pela ideia de que não precisavam de um homem e que teriam que competir com eles no trabalho."

Imagens do programa Red Ice
Legenda da foto, Imagens do programa Red Ice; Lokteff garante que a mensagem de valores tradicionais atrai muitas mulheres para o movimento nacionalista branco

"Isso não fez as mulheres felizes, porque não priorizaram seus objetivos. Esqueceram a prioridade, que é ter uma família."

"O feminismo considerou essa ideia como se fosse diabólica, olhando para as mães e as donas de casa com desprezo."

'Três desejos'

Para Lokteff, se a mulher tem ou não a opção de seguir um caminho próprio e independente importa pouco. O principal, de acordo com seus ideais, "deve ser o futuro da sociedade branca".

"Nós mulheres, realmente só queremos três coisas: ser bonita, atrair um homem bem-sucedido para nos proteger e ter uma família."

"Que mulher não quer isso? Essa é a verdade... embora muitas mulheres neguem, todas queremos ser bonitas e protegidas por um homem."

Estes são os valores que, de acordo com Lokteff, estão atraindo muitas mulheres para o movimento nacionalista branco.

E ela se orgulha de espalhar "com sucesso" essa mensagem entre as mulheres americanas brancas com seu programa de rádio e suas palestras.

"Nós, mulheres, atraímos outras mulheres. E eu estou atraindo muitas seguidoras", disse Lokteff à BBC Mundo.

Por ser um movimento difuso, é difícil saber quantos dos membros da alt-right são mulheres. O fato, segundo especialistas, é que a supremacia branca nos EUA está em alta e as mulheres estão desempenhando um papel fundamental nestes grupos.

Como afirma a jornalista Sayward Darby, "são elas as encarregadas em perpetuar a raça branca, nutrindo a família e suas crenças em favor dos brancos".