O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, disse nesta quinta-feira em Paris que "o esquerdismo é uma doença infantil".
O comentário, em tom jocoso, foi feito na seqüência da resposta a uma pergunta sobre o pedido de flexibilização das metas de inflação feito em documento divulgado na quarta-feira por setores da esquerda do PT.
"Mudar os instrumentos que estabilizam a economia me parece um erro bastante infantil. Aliás, dizia Lênin, o esquerdismo é uma doença infantil."
Palocci disse que permitir o aumento da inflação para estimular o crescimento econômico pode até funcionar no primeiro ano, mas que no ano seguinte “seria um desastre”.
Crescimento
A esquerda do partido do presidente Lula alega que a economia poderá crescer 7% ao ano se a inflação aumentar.
Para o ministro, que foi à França para um fórum internacional sobre o financiamento do desenvolvimento, o efeito da proposta de aumento da inflação é justamente o contrário do desejado.
“A proposta beira o lamentável e impede o crescimento econômico”, afirmou Palocci.
Ele, que participou recentemente no Senado de um debate de sete horas para explicar a política econômica do governo, afirmou nunca ter visto esse tipo de estratégia em qualquer país ou em livros de economia que tratam de questões de crescimento e desenvolvimento.
“Não há um exemplo no mundo onde isso é feito”, disse Palocci, que classificou a proposta de “erro técnico gravíssimo”.
O ministro afirmou que “isso não é proposta de esquerda nem de direita”.
Segundo Palocci, as alternativas feitas à atual política econômica sempre consideram elementos negativos.
“Nesse momento em que levamos a inflação para níveis bastante baixos, próximos a 5,5%, que é a nossa meta para este ano, e de 5% para 2005, imaginem o país aumentando a meta de inflação”, disse o ministro.
“Se temos uma expectativa de inflação 5,5% estamos fazendo juros de mercado considerando essa expectativa. Se a meta de inflação for aumentada, os juros reais e nominais subirão, o que acabará retraindo a economia”, afirmou.
'Equívoco'
No entanto, o ministro da Fazenda disse acreditar que não se trata de má fé da ala do PT que redigiu o documento e sim de “falta de compreensão”.
“Não é má fé. Trata-se de um equívoco”.
O ministro disse que talvez “não tenha explicado corretamente sua política econômica ao Senado e se dispôs a falar durante outras “20 horas se for necessário”.
Palocci descartou ainda que as pressões internas no partido do presidente afetem o trabalho do governo e a repercussão de sua atuação no exterior.
“Quando recebi os primeiros investidores e agentes econômicos brasileiros e internacionais, em janeiro do ano passado, eu lhes disse que o PT é um partido democrático”.
Pressões
Ele diz não temer as pressões da ala mais radical do PT. “É um debate”, avaliou o ministro.
Palocci, que se encontrou nesta quinta com o ministro francês da Economia, Nicolas Sarkozy, e da Grã-Bretanha, Gordon Brown, durante o Fórum sobre financiamento para o desenvolvimento, reiterou ainda, em relação aos juros, que “não dá para falar em quando e como eles serão reduzidos”.
O ministro afirmou que esta é uma atribuição exclusiva do Copom, mas disse também ver com otimismo os números da inflação.
“O relatório sobre inflação mostra que há espaço para uma redução. Mas se esse espaço vai ser usado de maneira mais curta ou mais longa é uma discussão técnica”, disse Palocci, que volta nesta quinta à noite para o Brasil.