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Economia peruana cresce e popularidade de Toledo despenca
O país que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita neste domingo, o Peru, e seu presidente, Alejandro Toledo, são em tudo diferentes do Brasil. Os indicadores macroeconômicos peruanos – crescimento constante e significativo desde que Toledo tomou posse, em julho de 2001; inflação anual pouco superior a 2% e desemprego de 8,1% – são tudo o que o Brasil almeja. Por outro lado, uma popularidade como a do presidente Lula, superior a 70%, é o que falta ao presidente peruano. Dois anos depois de ser eleito no segundo turno para um mandato de cinco anos, Toledo tem apenas 11% de aprovação popular, o nível mais baixo de todos os tempos. Promessas O crescimento de 5,2% na economia no ano passado e a perspectiva de mais 4% de crescimento neste ano não parecem sensibilizar os peruanos, que reclamam das promessas não cumpridas do presidente. A antropóloga Norma Fuller Osores, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Católica de Lima (PUCP), diz que os números macroeconômicos mascaram a realidade do povo peruano. “O país está crescendo, mas com o setor de mineração, que não gera empregos”, explicou a antropóloga. “O macro está bonito, mas o micro está feio”, disse, explicando que o efeito dominó que normalmente acontece quando a economia cresce e existe mais dinheiro circulando no país não ocorreu no Peru. Do crescimento de 4,5% na economia no primeiro semestre deste ano, de acordo com os dados oficiais do Ministério da Fazenda peruano, a maior parte veio do setor de mineração, que cresceu 8,8% no mesmo período, enquanto o setor pesqueiro encolheu 17,8%. As reformas neoliberais do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) também arrumaram as contas do governo e acabaram com a hiperinflação do governo anterior, de Alan Garcia (1985-1990), mas aumentaram o desemprego, num país onde cerca de metade da população de quase 27 milhões de pessoas vive em extrema pobreza. Só as privatizações, disse Norma Fuller, resultaram na perda de 400 mil empregos. Erros O cientista político e diretor de investigações do Instituto de Estudos Peruanos (IEP), Martin Tanaka, culpa o amadorismo político de Toledo e de seu partido, o Peru Possível, pelos erros cometidos durante o seu governo. “São erros bobos, mas que têm um grande impacto na opinião pública”, analisou. Ele disse que, na média, os ministros estão realizando um bom trabalho e que o país até melhorou nos últimos anos. Uma das características de Toledo mais criticadas pela população é o hábito de prometer mais do que é possível cumprir. “Falta a Toledo ser mais sincero e transparente e reconhecer que, durante a campanha, prometeu coisas que não pode realizar”, afirmou Tanaka. O motorista de táxi Eliseo Requejo tem a mesma avaliação do cientista político. “O presidente fala muito mas não cumpre o que promete. Pensa que ainda está em campanha”, reclamou. O cientista político Martin Tanaka lembra que, há algumas semanas, Toledo prometeu a criação de uma universidade no local, sem que o assunto jamais tivesse sido discutido no governo e com poucas chances de que a promessa seja cumprida. “Isso causa muita irritação”, avaliou. Greves Uma dessas promessas, a de dobrar os salários dos professores durante seu mandato, causou muita dor de cabeça e derrubou ainda mais a popularidade de Toledo. Entre maio e junho deste ano, ele amargou uma longa e barulhenta greve dos funcionários públicos que resultou na decretação de estado de emergência, em maio. Toledo acabou concedendo um aumento de salário, embora muito abaixo do reivindicado. A manobra contentou os grevistas por algum tempo, mas analistas prevêem novos protestos no futuro, quando eles perceberem que as finanças públicas tornam difícil o cumprimento da promessa. O presidente da Corporação Financeira de Desenvolvimento (Cofide), Daniel Schydlowsky, acha que as cobranças ao governo de Toledo fazem parte do processo de redemocratização do país, depois do governo de Fujimori. “Este país, que há algum tempo era um grupo de súditos de caudilhos, hoje é um país de cidadãos, que são donos de seu governo e de seu destino, e por isso queremos que nosso governo nos escute”, analisou. Schydlowsky também acha que Toledo sofre com as expectativas muito elevadas da população, depois de se sentirem enganadas por Fujimori - que deixou o governo em meio a escândalos de corrupção. “É muito difícil satisfazer a impaciência a curto prazo”, afirmou. Sendero Luminoso O Peru também vive hoje o fantasma do ressurgimento do Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro de orientação maoísta cuja atuação provocou a morte de cerca de 30 mil peruanos entre 1980 e 1993. Reprimido por Fujimori, o grupo voltou a atuar no ano passado, com a explosão de uma bomba num shopping center em Lima, que deixou nove mortes, dias antes da visita do presidente americano, George W. Bush. O seqüestro em maio de 71 trabalhadores do grande projeto de gás natural de Camisea, no sudeste do país, e a morte de cinco soldados e dois civis, num confronto em julho são as ações mais recentes do grupo. “O Sendero é uma ameaça que tem que ser levada a sério, mas ainda é muito pequena”, disse Martin Tanaka, do Instituto de Estudos Peruanos. Tanaka explicou que a atuação do grupo, que hoje teria menos de 200 integrantes, ainda é localizada em algumas províncias, em regiões de cultivo de coca perto da selva amazônica. A antropóloga Norma Fuller Osores, da Universidade Católica de Lima, acha que a oposição pode estar fazendo o Sendero Luminoso parecer maior do que é. Ela acha ainda que o grupo ressurgiu muito ligado à produção de coca. A informação considerada mais preocupante é a de que o grupo estaria recrutando jovens desempregados e pagando um salário equivalente a US$ 20 pela adesão ao movimento. “É muito difícil separar a luta política da cocaína e da delinqüência nessas ações”, avaliou Norma Fuller. Leia também: |
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