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Atualizado às: 19 de novembro, 2003 - 11h49 GMT (09h49 Brasília)
 
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Londres se reinventa
 

 
A estrutura moderna da roda-gigante do milênio, o London Eye, ao lado do County Hall, antiga sede da prefeitura de Londres
Tradição e modernidade convivem em harmonia na capital inglesa
 

















“Quando alguém cansa-se de Londres, cansa-se da vida. Porque há em Londres tudo o que a vida tem a oferecer”.

Exagero, dirão os apressados, sem se darem conta de que o autor da frase, o escritor e lexicógrafo inglês Samuel Johnson, fazia em sua citação uma espécie de declaração de amor na qual está embutida a aceitação das imperfeições, assim como das qualidades, da amada.

Mais de dois séculos depois, as palavras registradas por Dr. Johnson ainda traduzem com fidelidade a capital britânica. Londres continua múltipla.

O trânsito continua infernal (apesar da introdução do pedágio urbano, que reduziu o volume de carros nas ruas centrais), o centro da cidade é poluído, os mendigos que assolam as áreas de concentração turística surpreendem o visitante que não espera ver este tipo de coisa em um país rico, e os hotéis de preço médio deixam muito a desejar.

Londrinos e turistas em um café ao ar livre, em Covent Garden, na região central de Londres
Cafés londrinos estão mais continentais
 

Ao mesmo tempo, Londres é a capital européia mais cosmopolita; o terceiro maior centro financeiro do mundo; um dos principais pólos da alta cultura internacional; grande produtora de cultura popular e geradora de modismos.

Dona de um caráter singular, exibe a combinação perfeita de tradição e modernidade.

Continental e hedonista

Como estrangeira nesta terra, sempre me impressionou o cuidado que os nativos têm em preservar sua história e costumes; a tolerância que permite, com raras exceções, a convivência pacífica de sua população multi-étnica e de diferentes inclinações religiosas e sexuais. Igualmente, como eterna turista, aprecio a civilidade e cortesia no trato com o outro.

De certa forma, aspectos daquela Londres do século 18, a que inspirou o escritor, ainda podem ser observados pelo visitante: nos monumentos, nos palácios, na presença da realeza, na herança cultural e, por incrível que pareça, até no boom do café society (um hábito que o londrino do século 17 já cultivava).

Mas a Londres do século 21 apresenta sinais irrefutáveis de mudança radical.

Nos últimos anos, vem se reinventando – como tem feito regularmente em seus 2 mil anos de história. A cidade passou por um processo de continentalização – para o que o Eurotúnel certamente contribuiu.

O fenômeno é facilmente observável numa visita ao Soho, onde os cafés e restaurantes agora esparramam-se pela calçada (uma cena rara há 10 anos).

Londres, definitivamente, está mais hedonista.

Que o diga a rainha do hedonismo, a cantora Madonna, que adotou a capital britânica, onde mora com o marido inglês, o cineasta Guy Richie.

A cidade se oferece e Madonna – como os nativos e visitantes em geral – não resiste.

Como outras estrelas de Hollywood que andam comprando casa ou se instalando em Londres, entre elas Gwyneth Paltrow e Tom Cruise, ela tem circulado pelas galerias de arte, pubs, clubes e restaurantes – que diz adorar.

Uma seleção de pratos da culinária tailandeses
O cenário gastronômico é incrivelmente diverso
 

Surpreendente? Na busca do londrino pelo prazer, a comida passou a ter papel importante.

Come-se bem, sim

A velha imagem de que se come mal em Londres é um clichê que já não encontra eco na realidade.

Até o ex-prefeito de Nova York Ed Koch apontou Londres como sua cidade favorita.

Por que?, surpreendeu-se o repórter que o entrevistava.

Pelos teatros e pela diversidade e qualidade de seus restaurantes foi a resposta.

São cerca de 6 mil restaurantes com culinárias de mais de 60 países.

Só na Charlotte Street, uma simpática ruazinha ao norte da Oxford Street, a um minuto do Soho, contei da última vez: um restaurante vietnamita, vários gregos, indianos (de várias regiões), três ótimos italianos (sem falar da pizzaria), um irlandês, um filipino, um sérvio, uns três franceses e um espanhol – não incluindo aí os pubs, bagel shop e cafés.

Mesmo com toda essa oferta, experimente conseguir uma mesa para jantar, na área central da cidade, o West End, nas noites de quinta-feira, sexta e sábado, sem ter feito reserva.

É o equivalente a ganhar na loteria. Mas não há risco de passar fome.

Milhares - melhor dizendo, milhões - de visitantes deixam Londres de barriga cheia e engordam a economia da cidade, que fatura 1,5 bilhão de libras, por ano, com seus restaurantes.

 

 “Quando alguém cansa-se de Londres, cansa-se da vida. Porque há em Londres tudo o que a vida tem a oferecer”.

Dr. Johnson, escritor e lexicógrafo do século 19

 

O poder jovem e gay

Enquanto descobrem o prazer de comer, os londrinos redescobrem o cocktail.

Proliferam em progressão geométrica os novos bares onde uma freguesia jovem consome litros de martinis e indescritíveis líquidos coloridos.

Juventude é uma palavra chave nessa Londres do século 21.

Jovem e afluente: este é o retrato de um grupo social – dos 20 aos 30 anos – com dinheiro no bolso e infinita disposição para se divertir. É a geração “.com”, que desponta com o poderoso mercado da Internet, e que junta-se aos yuppies milionários da City – jovens corretores de valores e funcionários de bancos que fazem fortuna no mercado financeiro.

Mulheres e homens bebem em bar londrino
Jovens lotam bares e clubes na movimentada vida noturna
 

Com tanto poder jovem, não é por acaso que Londres tem a club scene, o cenário de clubes noturnos, mais vibrante do mundo.

Outro fator na efervescência da cidade é a força do pink pound, a libra rosa que alimenta a indústria de entretenimento gay.

O mercado entendeu que profissionais com dinheiro no bolso e sem filhos para criar formam um poderoso grupo de consumidores que não pode ser ignorado.

Uma das primeiras iniciativas do governo trabalhista – que conta com homossexuais assumidos no gabinete – foi “vender” Londres como a capital gay, um dos destinos mais cintilantes da Europa.

Apostas no futuro

Cerca de 30 milhões de pessoas visitam a capital britânica por ano e gastam aqui 9 bilhões de libras.

Os números levaram o Ministério da Cultura (ao qual está subordinada a Secretaria de Turismo) a divisar uma nova estratégia que inclui, entre outras coisas, a melhoria da infraestrutura hoteleira.

Mas nem tudo é consumo. Uma das grandes capitais culturais do mundo continua sendo exatamente isto.

Na verdade, Londres quer se superar.

É o que demonstra o nível de investimento em novos projetos e projetos de modernização: a Tate Gallery, o Museu Britânico, a Royal Opera House, a Ponte do Milênio, o London Eye, a pedestrianização da praça de Trafalgar, para citar alguns.

Turistas a bordo de uma das cápsulas da roda-gigante do milênio, London Eye, têm uma vista panorâmica de Londres
A bordo do London Eye, turistas vêm a cidade sob novos ângulos
 

Com a candidatura da cidade à sede das Olimpíadas de 2012, podem-se esperar novos investimentos em grande escala.

Ao eleger um prefeito, Ken Livingstone, em 2000 - o primeiro desde que Margaret Thatcher aboliu a Prefeitura de Londres, em 1986 - a capital britânica faz mais uma aposta no futuro.

A torcida é para que, em breve, a cidade receba seus visitantes mais limpa, menos poluída e com um sistema de transporte eficiente.

Se o parlamento reformar, como vem sinalizando, a lei que restringe o horário de funcionamento dos pubs e bares, os turistas também agradecerão.

Enquanto isso, Londres segue vibrante e múltipla, determinada a ser ainda mais atraente ao olhos do resto do mundo.

Fiel ao retrato pintado há dois séculos por Dr. Johnson: uma cidade onde se encontra de tudo que a vida tem a oferecer.

 
 
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