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28 de março, 2006 - 20h23 GMT (17h23 Brasília)

Cientistas buscam pílula que reduza risco de câncer

Especialistas britânicos estão trabalhando no desenvolvimento de uma pílula anticoncepcional que não aumente os riscos de câncer de mama e que, ao contrário, ajude a prevenir esta e outras doenças.

A expectativa dos cientistas é de que a nova droga esteja disponível em cinco anos.

De acordo com David Baird, professor da Universidade de Edimburgo, a nova pílula talvez possa evitar fibroses, endometriose e a tensão pré-menstrual.

A pílula funciona à base da droga mifepristona, utilizada na composição da pílula do aborto, a polêmica RU 486.

Ela suspenderia o ciclo menstrual ao bloquear a ação do hormônio progesterona, que ajuda o corpo a se preparar para a gravidez.

Os cientistas acreditam que a pílula possa também reduzir o risco de trombose em mulheres mais velhas, que fumam ou estão acima de seu peso ideal.

Riscos

Pílulas atuais, que funcionam à base de uma combinação de estrogênio e progesterona, têm sido associadas ao câncer da mama.

Alguns especialistas acreditam que o efeito seria causado pelo estrogênio.

Esta teoria, no entanto, é bastante refutada por cientistas que argumentam que, pelo contrário, a pílula "combinada" ajudaria a proteger contra outros tipos de câncer, como os de útero e ovário.

Baird afirma que testes com animais indicam que a nova pílula pode inibir o câncer da mama. Ele diz acreditar que é possível que a droga tenha o mesmo impacto em células humanas.

"Em teoria, não há razão para que a nova pílula aumente o risco do câncer no seio, uma vez que ela não contém estrogênio", explica.

"Se você reduz a exposição cíclica do ovário aos hormônios ovarianos estrogênio e progesterona, você deveria, na verdade, estar reduzindo o risco de câncer do seio", acrescenta o pesquisador.

A pílula foi testada em dois grupos de cerca de 90 mulheres com resultados positivos e, de acordo com os cientistas, poucos efeitos colaterais.

O professor Baird enfatiza, no entanto, que estudos em grande escala são necessários para que os benefícios e possíveis malefícios sejam avaliados.

Repercussão

Anna Glasier, médica da London School of Hygiene and Tropical Medicine, diz que a idéia de que é pouco natural suspender o ciclo menstrual é "completamente errônea".

Glasier argumenta que, no passado, as mulheres passavam anos sem menstruar, seja porque estavam freqüentemente grávidas ou amamentando.

Já a médica Rosemary Leonard alerta para a necessidade de pesquisas para que se conheçam os efeitos da pílula a longo prazo.

"No momento em que você fala em interromper a ação dos ovários, você tem de olhar o sistema hormonal como um todo", diz.

"E aí vem a pergunta: o que isso representa para a saúde a longo prazo?", questiona.