Eleições 2018 Segundo Turno: Estratégia 'kamikaze' do PT terá no 2º turno seu teste definitivo

Fernando Haddad ao votar em São Paulo

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Agora no segundo turno, Haddad terá de lidar com crescimento da onda antipetista e com a busca por votos que antes eram redutos históricos do petismo
    • Author, Lucas Ferraz
    • Role, De Roma para a BBC News Brasil

Confirmado como o nome do PT para disputar a Presidência da República a menos de um mês do primeiro turno, Fernando Haddad encampou uma ousada estratégia eleitoral no momento mais delicado da história do partido.

A partir de agora, no segundo turno, sua tarefa não será menos complexa: contra a enorme onda antipetista que cresce desde 2014, tentará ser eleito explorando exatamente a rejeição de seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), tão alta quanto a sua, além de lançar um apelo pela formação de uma frente democrática para, como diz, barrar o que considera a "barbárie".

Bem-sucedida até o momento, apesar de uma estagnação dos votos na fase final do primeiro turno, a estratégia petista - que vinha até então poupando o capitão reformado do Exército de ataques - é questionada por muitos, inclusive aliados de Haddad, e terá de lidar com um novo problema: o derretimento do voto petista em redutos históricos do lulismo, como o Nordeste.

Isso se refletiu nas intenções de voto: pesquisas indicavam que 39% dos eleitores no País votariam com certeza num indicado por Lula, mas Haddad terminou com 28,85%.

Um dos apelos que alguns dos aliados fazem ao candidato é para que Haddad seja mais "ele mesmo", deixando de lado - ou ao menos minimizando - a imagem do PT. Há, ainda, quem defenda a necessidade de uma autocrítica sobre os erros de Lula e do partido, acenos ao centro - o que parece inevitável -, além de um afastamento da imagem de Lula (condição que é reforçada nas críticas dos adversários).

Os ataques a Bolsonaro, a partir de agora, devem vir com intensidade. Na avaliação do ensaísta Bruno Carvalho, professor da Universidade Harvard, a decisão de poupar o capitão pode até fazer algum sentido como cálculo eleitoral, mas, segundo ele, o "PT irresponsavelmente ajudou a chocar o ovo da serpente".

Lula e outros petistas já declararam que Bolsonaro era o adversário dos sonhos num segundo turno. Mas a alta polarização e a adesão - já vistas no primeiro turno - de políticos e partidos do centro, além de empresários, à candidatura de Bolsonaro mostram que a tarefa do PT não será fácil.

Haddad com poster de Lula ao fundo

Crédito, AFP

Legenda da foto, Haddad é cobrado para ser mais 'ele mesmo", deixando de lado - ou minimizando - a imagem do PT

"Mesmo que Haddad ganhe no segundo turno, ele não governará sem uma ampla frente democrática que o sustente. E para isso não será suficiente a habilidade - notável - do Lula em fazer arranjos e conchavos. Nem será mais possível governar com Renans, Jucás e Eunícios", afirma o historiador Daniel Aarão Reis, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

"Teria sido melhor deslanchar essa frente já primeiro turno - com Ciro e Hadad", opina o professor, que considerou um erro a insistência do partido na candidatura própria.

A estratégia

Um dos maiores derrotados nas eleições municipais de 2016, desgastado pelos casos de corrupção revelados pela Lava Jato e ainda sob o impacto do impeachment de Dilma Rousseff, o PT traçou uma estratégia para muitos considerada "kamikaze".

Com o ex-presidente Lula preso desde abril, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o partido - encorajado pelas pesquisas de opinião, que o mostravam à frente - insistiu em lançá-lo novamente à Presidência, mesmo que as chances da candidatura ser aprovada pela Justiça fossem mínimas.

Ao se preparar para uma guerra de liminares, a sigla lançou na rede e entre seus militantes a campanha "eleição sem Lula é fraude". Não adiantou: o Tribunal Superior Eleitoral barrou a candidatura no início de setembro, enquadrando o ex-presidente na Lei da Ficha Limpa, que veta políticos condenados em duas instâncias do Judiciário, como é o seu caso.

Haddad e Ciro em debate

Crédito, AFP

Legenda da foto, Haddad e Ciro em debate; chegou-se a aventar uma chapa conjunta, liderada pelo pedetista, mas a ideia não vingou

Foi quando entrou em cena o ex-prefeito de São Paulo. Haddad, na verdade, acabou se tornando uma alternativa ao nome do ex-governador baiano Jaques Wagner, o preferido de Lula. Mas Wagner, defensor de uma aliança da centro-esquerda, propondo inclusive o nome de Ciro Gomes na cabeça de chapa, rejeitou o desafio.

Uma possível dobradinha Ciro-Haddad começou a ser aventada ainda no ano passado, mas foi descartada pela própria cúpula petista - sob a benção de Lula. Desde a primeira eleição presidencial de que participou, em 1989, o PT nunca aceitou uma aliança em que estivesse em posição subordinada.

Quem venceu em cada unidade da federação

Ciro, ex-ministro de Lula, vem há meses fazendo críticas ao PT e não mostrou disposição para se tornar um defensor do "Lula livre", papel que Haddad endossou a ponto de dizer na campanha que lutaria, dentro do que fosse "juridicamente possível", para tirar o padrinho político da cadeia.

Professor universitário e ex-ministro da Educação no governo Lula (2003-2010), Haddad mostrou habilidade ao se consolidar - diante das resistências internas - como candidato. Fortemente criticado no PT desde a sua derrota no primeiro turno para João Doria (PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2016, ele precisou reconstruir a relação com lideranças partidárias.

Advogado, ele se tornou um dos nomes da defesa do ex-presidente, com acesso direto à carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Primeiro, foi apresentado como o vice de uma eventual candidatura Lula. Depois, ao ter seu nome confirmado, formou a chapa com Manuela D'Ávila, do PCdoB.

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Com ou sem autocrítica?

"A esquerda só se une na cadeia", diz Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, próximo ao PT (embora frise que nunca foi filiado) e amigo de décadas do ex-presidente Lula.

"O partido fez bem em lançar candidato próprio. Ciro é distante do que o PT propõe em seus documentos. E Haddad só foi para o segundo turno, e com possibilidade de vencer, graças a Lula."

Bolsonaro ao votar neste domingo

Crédito, EPA

Legenda da foto, Petistas já declararam que Bolsonaro era o adversário dos sonhos num segundo turno, mas a alta polarização e a adesão à candidatura do direitista mudaram esse cálculo

Betto afirma que, contra os seus prognósticos, a estratégia de manter a candidatura de Lula até o prazo final estipulado pela legislação eleitoral se mostrou correta. "Assim, o eleitorado ficou centrado em Lula, e Haddad apanhou menos ao despontar como candidato".

Apesar de candidato, Haddad ainda hoje é visto com desconfiança dentro do PT. Na campanha, protagonizou polêmicas como ao pregar a necessidade de uma nova Constituinte, depois descartada. E também contrariou o partido em temas econômicos, como ao falar sobre a reforma da Previdência. Ele tem se esforçado para evitar menções a Dilma Rousseff, a quem frequentemente é comparado como mais um "poste" de Lula - segundo o Datafolha, 49% dos eleitores não votam em candidato indicado pelo ex-presidente.

Muitos afirmam que, para ter chances reais de bater Bolsonaro num segundo turno, Haddad e o PT deveriam fazer uma autocrítica, ponto no qual Lula - e boa parte do partido - ainda é extremamente resistente.

Para Frei Betto, embora o PT esteja devendo a autocrítica, "o momento não é agora".

O historiador Daniel Aarão Reis acredita que, se houver esse reconhecimento agora, ele poderá ajudar na formação de uma frente democrática decisiva para a eleição de Haddad.

"Os petistas tornaram-se completamente acríticos em relação ao Lula, salvo as exceções que confirmam a regra. A boa notícia é que está se formando uma apreciável massa crítica aos desacertos do PT e do Lula", disse.

Um dos erros vistos, segundo o professor, foi superestimar a capacidade - "fantástica e provada" - de transferência de votos de Lula e subestimar a ira antipetista, o que, não há dúvidas, continuará a ser a tônica do segundo turno.

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